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Jacira Jacinto da Silva

Presidente da CEPA – Associação Espírita Internacional

“Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.”

(Kardec, Allan. A Gênese, Caráter da Revelação Espírita, Cap. I)

Em tempos de tanto retrocesso, enquanto o mundo assiste a recusa em série de países europeus a receber e proteger refugiados sem qualquer alternativa de sobrevivência: enquanto a nação tida como a mais avançada do planeta pretende construir muros em suas divisas; e, enquanto o presidente da Venezuela recusa alimentos e remédios para o seu povo faminto e doente, uma grande alegria viceja no coração dos espíritas com o aumento, de forma espantosa, do número de adeptos da Filosofia Espírita que declaram sua aceitação ao caráter progressista desse corpo de conhecimento, que por tantas décadas tem sido apequenada na visão estreita do religiosismo.

A adesão de grupos diversos, integrados por jovens pesquisadores e respeitáveis pensadores espíritas, provenientes de incontáveis comunidades espíritas, debatendo a sua natureza progressista, coloca essa Filosofia muito mais perto da sua essência humanista.

Dentre as convicções que acompanham os adeptos da CEPA – Associação Espírita Internacional, desde os seus tempos mais remotos, está a visão humanista inerente ao Espiritismo e indissociável das suas referências elementares, tais como o compromisso inabalável com a justiça social e a postura ética diante da natureza, especialmente no que diz respeito à condução política da vida.

O movimento de ideias progressistas no meio espírita ganhou força no Brasil com o recente Manifesto por um espiritismo kardecista livre, publicado em 7 de fevereiro de 2019 pela Associação Brasileira de Pedagogia Espirita, dirigida pela Dra. Dora Incontri, perseverante estudiosa e defensora do Espiritismo, palestrante e escritora (cf. https://goo.gl/WHe2XM) .

Em seu blog, escreveu Wilson Garcia:

“Manifesto é mais uma ação por um espiritismo sem donos e sem danos.

Lançado com assinaturas individuais e institucionais, é ele mais um brado contra o religiosismo, o poder hegemônico, a negação da diversidade e as práticas absurdas.

Sob a coordenação da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita (ABPE), mais de 150 espíritas e instituições assinam o documento – Manifesto por um espiritismo kardecista livre – que promove um espiritismo de livres-pensadorescapitaneado por Allan Kardec.” ( http://www.expedienteonline.com.br/ )

Dora Incontri propõe logo no início, resgatando o modus operandi adotado pelo

escritor e palestrante venezuelano, ex-presidente da CEPA Jon Aizpúrua quando visitou diversas instituições e cidades brasileiras, na década de 90, que nos reunamos em torno do que nos une. Lembro-me muito dessa fala de Jon, sempre asseverando que todo espírita Kardecista acredita em Deus, na imortalidade do espírito, na reencarnação, na pluralidade dos mundos habitados, na possibilidade de comunicação com os desencarnados e na evolução. Ressaltava o pensador venezuelano que eventuais divergências na interpretação desses princípios elementares não poderiam nos separar.

Em nosso ver, não há espírita convicto que pretenda se isolar das descobertas científicas, ou do convívio respeitoso com seus semelhantes, apesar das diferenças. Não pode haver kardecista genuíno descolado da pretensão a uma postura ética, orientada nos pensamentos de Jesus de Nazareth; Buda, Luther King, Gandhi, Nelson Mandela, Madre Tereza de Calcutá, dentre outros. Do mesmo modo, todos desejamos que a mediunidade seja praticada para o bem, sem qualquer tipo de benefício aos médiuns além da satisfação de contar com essa ferramenta na sua escalada evolutiva.

Feita a abordagem dialética desses pilares, surge o balizamento para a conduta espírita, seja o estudioso mais ou menos místico, mais ou menos antenado em inovações tecnológicas. Por esse motivo, a CEPA, Associação Espírita Internacional, felicita-se com o manifesto da ABPE e o apoia, esperando que mais e mais espíritas se alinhem ao autêntico pensamento Kardecista, fio condutor dos estudos espíritas. Com essa base, torna-se possível enfrentar qualquer problema das mais diversas ordens, desde questões pessoais até as maiores teses políticas.

Decerto que todos sabemos o valor incalculável do trabalho realizado por Allan Kardec e a preciosidade contida na sua obra, a começar pela lucidez ao definir o Espiritismo, logo no limiar da obra O que é o espiritismo, como sendo “ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas relações”.

A natureza progressiva do Espiritismo, diferentemente das ideias retrógradas e rígidas sustentadoras das religiões, muito mais se alinham com a filosofia, palco das discussões relacionadas aos grandes problemas humanos. Só por essa característica já se identificam sinais propulsores das inovações do conhecimento, mas Kardec também a enxergou como uma ciência de observação, enaltecendo o seu caráter progressivo.

Negar a natureza progressista do Espiritismo representa afronta à definição de Kardec, que o identificou como uma proposta altamente humanista. Tanto pela sua essência, como pela natureza que lhe foi atribuída por seu fundador, o Espiritismo propõe o enfrentamento das problemáticas humanas, oferecendo importantes contribuições para os avanços da humanidade. Lembremos da anotação de Kardec logo depois de conceituá-lo: o Espiritismo pode ser definido como uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.

Não há qualquer paradoxo em reconhecer que o apego às ideias originárias é impróprio, inoportuno e desnecessário, ou que muitas delas pertenciam, claramente, ao homem Allan Kardec, ou a algum outro espírito que participou da construção das obras básicas, pois a validade da sua essência filosófica depende da abertura para novos conhecimentos.

Sem se cogitar, jamais, de macular a obra original do autor, como em toda produção literária é natural que a Filosofia Espírita também passe pelo crivo das novas descobertas, assimilando conceitos novos e desprezando as definições ultrapassadas. Não à toa, Kardec recomentou escolher a ciência se em algum ponto dela se apartasse o Espiritismo.

A comunidade espírita laica, livre pensadora, humanista, progressista, autenticamente kardecista, felicita os novos agrupamentos que vêm reconhecendo o grande potencial de crescimento do Espiritismo a partir da sua natureza progressista. Que outros companheiros se declarem adeptos das novas descobertas, já que negá-las corresponderia a sepultar essa contribuição fantástica trazida à lume por Allan Kardec.

Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito.

Martin Luther King

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