Jacira Jacinto da Silva

President of CEPA – International Spiritist Association

Dear fellow members,

First of all, I would like to most sincerely thank the members of the communication team, represented by Argentinians, Brazilians, Puerto Ricans, Venezuelans and Spaniards

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Jacira Jacinto da Silva
Presidente de CEPA - Associação Espírita Internacional

Prezadas e prezados, passamos três dias juntos e foi extremamente positivo!

Tudo passa nesta vida e o nosso colóquio também se vai ...

Entretanto, o balanço não poderia ser melhor.

Antes de tudo temos de reconhecer que sabemos muito menos do que nos falta conhecer. Essas jornadas de estudo são oportunidades especiais que bem aproveitadas servem a quem busca verdadeiramente conhecer o Espiritismo e viver segundo seus postulados.

Diante de tantos ataques à Teoria Espírita, intencionais ou não, passar três dias debatendo o seu conteúdo com pensadores de alto nível e comprometidos com a mais autêntica e legítima honestidade intelectual, é um regalo para todos nós. Significa também, importante evolução do conhecimento.

Desde o dia em que Leon Hipollyte Denizard Rivail questionou a possibilidade de um objeto dar respostas inteligentes às questões propostas, a humanidade passou a acessar novas informações provenientes da dimensão espiritual, demasiadamente impactantes e suficientes para promover uma verdadeira revolução no conhecimento humano.

Arthur Conan Doyle denominou esse momento histórico de “invasão organizada”. De fato, saber que somos espíritos imortais em constante crescimento e possuímos diferentes corpos nas sucessivas encarnações, implica completa inversão do pensamento até então dominante, de que seríamos um corpo e teríamos uma alma, cujo destino após a morte física seria o céu ou o inferno a depender do julgamento divino.

Esse ponto de partida suscitou inúmeras dúvidas, desvendou um horizonte de questões infindáveis e desencadeou a busca por mais conhecimento. Passados mais de um século e meio, muitas frestas foram abertas, colocando luz no obscurantismo então vigente; entretanto, a vida que levamos, pautada no egoísmo e em todas as consequências perversas derivadas desse vício maior, sinaliza para o estágio de primariedade dominante em nossos dias.

Não me refiro aos outros; não reflito sobre o que religiosos, filósofos, agnósticos e ateus, não são capazes de fazer. Não, queridos companheiros, minha consciência me obriga a falar de uma humanidade carente de amor, desprovida de solidariedade e de todas as virtudes necessárias para reconhecer que é impossível construir um estado de felicidade, mirando apenas nos próprios interesses. Nós, é o pronome mais adequado para expressar quem são os seres humanos que não absorveram ainda nem mesmo a frase atribuída a Jesus de Nazareth, que teria sido dita há séculos - dois mil anos, propondo fazermos aos outros o que gostaríamos que nos fosse feito.

O que faremos com o conhecimento adquirido nesses três dias de estudo? Todos os temas foram trabalhados com maestria e poderão implicar em alguma melhoria de nossa vida e do nosso mundo se soubermos transformá-los em atitudes.

Kardec organizou as pilastras que sustentam o Espiritismo, porém, é nosso papel construir o edifício, estudando, trabalhando, agindo, transformando dores em alegria. Esse é o grande desafio. Saber para fazer, pois em pleno Século XXI vivemos atormentados por fome, guerra, doença, violência, abandono e indignidade, marginalidade, vícios, discriminação, destruição, desrespeito etc.

Evidentemente, essa situação de tantas injustiças sociais revela um paradoxo, já que em 1857, 90 anos antes da DUDH, o espiritismo preconizou a defesa dos direitos fundamentais, assegurando, especialmente, o respeito aos direitos humanos. Logo se vê sua característica vanguardista.

Levado em conta o tempo de existência da humanidade, o Espiritismo seria um recém-nascido; entretanto se pensarmos que em 20 anos experimentamos um extraordinário avanço tecnológico, concluiremos que já vivemos tempo suficiente para produzir melhores resultados com essa filosofia gigantesca, inovadora e vanguardista.

Certos da existência de Deus, não como alguém que julga e condena, mas como o desabrochar de um novo dia pela força da energia que no nascimento do sol, ilumina e dá vida; convictos da sobrevivência da alma e na possibilidade da comunicação mediúnica; cientes da lei de evolução neste e em outros mundos e principalmente compreendendo a reencarnação como uma oportunidade grandiosa e misericordiosa para aprender e crescer sempre, podemos fazer muito mais.

Começamos este nosso 1º Encontro Euroamericano com a apresentação de uma peça artística belíssima, falando que “vale a pena saber que se pode”, propondo “esperança” e alertando que “nunca se alcança se nunca se tenta”.

Temos de sonhar, esperançar, viver diariamente a utopia que nos faz dar um passo à frente. Acreditar que se pode e dedicar energia para realizar; foi para isso que embarcamos nesta viagem e não podemos voltar sem nenhuma bagagem.

Certamente, não temos parado para refletir sobre o estágio de barbárie e ignorância em que nos encontramos. A informação de que o planeta terra está mais próximo dos mundos primitivos do que dos mundos felizes, celestes e divinos, faz muito sentido neste panorama atual, de dor e sofrimento, em que nos mostramos incapazes de nos sensibilizar com a dor do semelhante.

Que pensar de um mundo em que uma mulher declara em conversa trivial, possuir 30 batons novos, na caixa, sem abrir. No mesmo contexto, uma Instituição filantrópica, dedicada a minimizar a injustiça social lhe pede uma contribuição mensal, equivalente ao valor de um baton, mas sua resposta é de que “não pode” e, de fato, não se compromete. Que mundo é esse?

Quantos de nós tem refletido sobre nosso verdadeiro papel nesta existência? Não estamos todos aqui para fazer a mesma coisa, mas sim, viemos todos trabalhar para um objetivo comum: a transformação do planeta em um mundo mais justo, mais solidário, mais digno, melhor etc.

Falamos de empatia, de produção de felicidade, sobre a necessidade da paz, de respeito ao avanço científico, a saúde da humanidade e de tantos outros temas valiosos e importantes para a evolução; entretanto, em nosso dia a dia somos refratários a esses sentimentos nobres. Para sustentar a alteridade e o respeito, incumbe-nos escutar o outro, dar-lhe voz, verdadeiramente considerar a sua opinião, e não pretender que apenas aceite nosso ponto de vista, ou desprezá-lo quando não se mostra em conformidade com a nossa opinião.

Não olvidemos o objetivo do espiritismo, de promover a transformação da humanidade, conforme Kardec em O Livro dos Médiuns. Podemos começar, como foi sugerido neste colóquio, reconhecendo que somos todos diferentes e que não temos o mesmo nível de compreensão.

Assim, prezados companheiros, estamos encerrando esta bela jornada, em que muito foi dito, com esforços extraordinários de todos.

Considero que fomos agraciados com uma importantíssima chance de estudo, reflexão, compartilhamento e amizade. Esses são gestos generosos que por si mesmos carregam uma conotação pedagógica; afinal, dedicar todo um fim de semana à discussão de temas relevantes e atuais, é também doação.

Muito obrigada a todos. Gratidão imensa aos companheiros que não arredaram pé, assistindo, aplaudindo e apresentando questões. Por certo trouxeram grandiosa colaboração que precisamos absorver, reproduzir, fazer valer em nosso dia a dia.

Também aos expositores deixamos nosso abraço de gratidão, lembrando que estão promovendo ao mesmo tempo, nosso aprimoramento intelectual e o avanço da CEPA.

Quiçá possamos melhorar, ainda que minimamente, o nosso estilo de vida na rotina diária, experimentando praticar a ética, a tolerância, a partilha, o respeito à diversidade.

Homens, mulheres, população LGBTQI+, pretos, brancos, amarelos, com ou sem deficiência física, com mais ou menos dinheiro, jovens ou idosos, somos todos viajantes, com tempo indeterminado para regressar, mas muito seguros de que não poderemos levar em nossas bagagens nenhum bem material.

Mais uma vez, nossa imensa gratidão a todos que contribuíram para a realização desse encontro, técnicos, tradutores, apresentadores, assistentes, conferencistas e artistas.

Parabenizo e agradeço uma vez mais, aos organizadores Mercedes, David, Rosa, Juan, Nieves Antonio e Pura, pelo extraordinário e irreparável trabalho, elaborado em curtíssimo prazo. Muchas gracias, queridos.

Vamos desfrutar logo mais de mais um trabalho artístico. Depois, devemos descansar e seguir refletindo até o nosso próximo encontro, quando avançaremos um pouco mais em nossas descobertas intelectuais.

A CEPA externa sua imensa e eterna Gratidão a todos.

Um abraço meu, muito carinhoso. Muito obrigada a todos.

Jacira Jacinto da Silva

Advogada, Presidente da CEPA – Associação Espírita Internacional

Ser criança, é ter liberdade para viver a infância com qualidade. Ser criança, é ter direito à moradia adequada, à alimentação saudável e a uma boa educação. Ser criança, é poder ser amado, protegido e feliz. Simples assim.

Isa Colli.

Foi em 20 de novembro de 1989 que a Assembleia Geral das Nações Unidas – ONU adotou a

Poder-se-ia questionar o motivo de tantas e novas leis; afinal, já existe a Declaração Universal dos Direitos Humanos, cada país tem a sua Constituição Federal, ou o seu Estatuto legislativo maior, contemplando os direitos vigentes para aquele povo, naquele tempo. Mas esses comandos legais gerais, em regra, não atingem seus objetivos e a população termina por contorná-los, de forma que apesar de serem importantes e aplicáveis, são ignorados. Claro que cada país tem as suas peculiaridades e, inclusive, há níveis muito diferentes de tolerância à desobediência.

Disso resultam legislações específicas, tratando de um único tema, como a proteção da criança, o crime de racismo, a proteção ambiental, os direitos do idoso, a proteção de dados pessoais etc. Em síntese, essas legislações especiais não seriam necessárias se as pessoas atentassem à obrigação de cumprir os comandos gerais.

Fato é que 196 países ratificaram a Convenção dos Direitos da Criança, adotada pela ONU há 31 anos.

Conquanto saibamos das limitações existentes na legislação humana, seus defeitos, seus vieses, suas motivações – muitas vezes particulares e indignas, ainda podemos dizer que sem ela estaríamos em condições piores. É a legislação humana que garante, minimamente, a convivência social.

A renovação das leis também faz sentido se pensarmos que, na resposta à questão 763 de

No mesmo sentido, a resposta à questão 616: “

E mais não precisaria para nos convencermos de que as leis humanas são transitórias, divergentes, impotentes para solucionar os conflitos humanos, embora apropriadas à cultura de cada povo.

Vale destacar ainda o enunciado contido na Q. 521:

[os grifos são meus] (P

A tendência mundial de proteger as crianças e os adolescentes, garantindo-lhes formação digna, educação, moradia, estudo, saúde, cultura, lazer e todos os cuidados necessários à sua boa formação, estão perfeitamente conformes com a lição espírita encontrada no capítulo de

A infância ainda tem outra utilidade. Os Espíritos só entram na vida corporal para se aperfeiçoarem, para se melhorarem. A delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devam fazê-los progredir. Nessa fase é que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os maus pendores. Tal o dever que Deus impôs aos pais, missão sagrada de que terão de dar contas. Assim, portanto, a infância é não só útil, necessária, indispensável, mas também consequência natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo.” 1

Não obstante, há quem considere o Estatuto dos direitos da criança e do adolescente um equívoco, atribuindo-lhe excessiva proteção e muitos direitos sem o correspondente rol de obrigações.

No Brasil, para os leitores terem noção da importância de regulamentar direitos às chamadas minorias (essa denominação destina-se apenas a classificar as pessoas excluídas da atenção e dos direitos naturalmente consagrados aos demais), em 1990 tínhamos aproximadamente 20% das crianças e adolescentes fora da escola - em 2017 esse percentual se reduziu a 4,7%; em 1990, 13,4% deles se achavam em estado de desnutrição crônica - em 2017 contaram-se 6,7%; as mortes por mil nascidos vivos caíram de 53,7 para 15,6 nesse período e a taxa média de analfabetismo entre crianças/jovens de 10 a 18 anos de idade diminuiu de 12,5% em 1990 para 1,4% em 2013.

Documento do UNICEF indica que, a partir da entrada em vigor do Estatuto, decisões judiciais passaram a assegurar a doação de próteses e órteses por parte do Estado, garantiram a contratação de professores de libras e auxiliares para acompanhar crianças autistas e com deficiência em escolas públicas e ampliaram as vagas em creches

Países em desenvolvimento carecem, ainda, da garantia a direitos básicos e elementares. Lamentavelmente a corrupção e o atraso dos governantes impedem ainda mais o acesso aos bens públicos. No Brasil, apesar das ações ajuizadas para processar administradores públicos, como o Prefeito da cidade de São Paulo, por exemplo, em julho de 2020 a fila de espera por vagas em creches dessa metrópole tinha 22,3 mil crianças, conforme dados da Secretaria Municipal de Ensino.

Aos espíritas, afinados à CEPA ou não, compete o dever de defender os direitos das crianças e dos adolescentes a uma formação digna. A lição espírita nos conduz à tarefa de contribuir para a melhoria das condições de vida para todos e em especial para crianças e adolescentes, por se tratar de pessoas em especial e peculiar condição de desenvolvimento.

Analisando o valor de uma existência na terra, bem assim a grande potencialidade para o aprendizado, não se pode desprezar nenhuma chance de se inculcar valores éticos em crianças e adolescentes, pois se encontram abertos, receptivos, disponíveis para esse exercício.

Estamos sempre às voltas com as grandes dificuldades nas relações humanas, os problemas governamentais, a desigualdade social, a ausência de proteção ambiental e tantas outras questões que impactam diretamente a vida de todos.

Esta Palavra da CEPA destina-se a convidar os leitores para refletirem sobre a responsabilidade de conduzir uma vida humana desde as suas primeiras manifestações; não descurar do dever de educar e educar-se, pois o convívio com um espírito que chega ao lar é sempre uma grande oportunidade de crescimento coletivo. Ademais, não poderia haver forma mais adequada e esperançosa para sanar as mazelas do mundo do que forjar novas cabeças, comprometidas, responsáveis e cientes do dever de todos, como indicado na questão 132 de

Há gente procurando oportunidade para dar a sua contribuição. Não poderia haver trabalho mais significativo e produtivo do que realizar ações, como já fazem diversos grupos espíritas – e não espíritas também, na área da educação. Aderir a movimentos sociais que lutam pela dignidade da educação pública, livre, laica e gratuita, abrirá um campo de trabalho inesgotável e de extrema valia.

O mundo carece por demais desse trabalho qualificado, que exige dedicação, esforço e persistência em busca da melhor educação. Especialmente espíritas, sabedores do valor de uma boa formação para a individualidade do espírito, têm motivos de sobra para trabalhar nesta causa.

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1 O Livro dos Espíritos, Q. 385, parte final.

2 QUEIROZ, Cristina e CHAVES, Léo Ramos. Revista FAPESP, n. 296, p. 37

Jon Aizpúrua
Ex-presidente da CEPA (1993/2000) e atual Assessor de Relações Internacionais

Denomina-se como laicidade à concepção da vida na qual defende-se a ausência de religião oficial na direção dos Estados, enquanto que por laicismo entende-se o movimento histórico que reivindica a implantação da laicidade.

Sobre a base de seus fundamentos humanistas, sociológicos e morais, assume-se que a laicidade estabelece um vínculo comum entre as pessoas e facilita que elas convivam respeitosa e cordialmente, processando suas diferentes opiniões em um âmbito civilizado, de liberdade e igualdade. Os princípios laicos de liberdade de consciência, de pensamento, de expressão e de organização; a igualdade de direitos e obrigações, assim como a justiça social, constituem a própria essência do sistema democrático.

É conveniente salientar que um Estado laico e, portanto, não confessional, não implica seja antirreligioso ou ateu. Toda a crença religiosa é respeitável e deve sempre garantir-se a seus adeptos o direito de vivê-la intimamente, compartilhando-a com quem se deseje e difundi-la sem restrições. Diferente há de ser o clericalismo e suas pretensões de gozar de privilégios especiais no âmbito social, situar-se por sobre ou à margem da normativa civil ou jurídica, ou impor critérios teológicos em assuntos morais, científicos ou educativos.

Felizmente, uma porção considerável da humanidade evoluiu no sentido de uma concepção laica que coloca em seus precisos termos a relação entre o mundo civil e o religioso, os Estados e as Igrejas. No mundo ocidental, com maior força, vive-se, cada vez mais, em uma sociedade pós-cristã. Esse tipo de sociedade teve início na Europa a partir do Renascimento, converteu-se em um projeto com o Iluminismo, generalizou-se entre as massas cristãs na segunda metade do século XX e foi se estendendo à América e a outros países influenciados pela cultura ocidental. A partir de um ponto de vista sociológico, não tão religioso, essas sociedades podem qualificar-se de pós-cristãs, o que significa que a cosmovisão baseada no cristianismo, em torno da qual girou a vida individual e social durante séculos, vai deixando de ser sua coluna vertebral. Essa mudança progressiva de cosmovisão na tradição cristã ocidental foi-se manifestando em muitas expressões culturais que estão sendo transformadas ou abandonadas:

  • As festas religiosas determinavam o calendário civil e trabalhista. Agora se eliminaram a maioria delas, embora sigam sendo muito importantes o Natal e a Semana Santa, não tanto no sentido religioso, mas como ocasião de viver em família e oportunidade para férias em campos e praias. O mesmo ocorreu com as festas patronais das pequenas localidades que eram dedicadas a um santo e que agora são apenas o motivo para celebrações civis e folclóricas

  • Os nomes que os pais davam a seus filhos eram buscados no calendário santo e que agora são apenas motivo de celebrações civis e folclóricas. Hoje se lhes põem nomes inventados, surgidos de combinações originais, muitas vezes estranhas e até impronunciáveis.

  • Muitas manifestações públicas, como procissões, romarias ou peregrinações, foram se despojando de seu sentido religioso original e se vão convertendo em festas folclóricas e populares, que costumam se aproveitadas pelos líderes políticos para promover sua imagem pessoal com fins eleitorais.

  • Em muitos países da órbita cristã, o registro eclesiástico de batizados e matrimônios era utilizado pelos Estados como registro civil. Há muito tempo que ambos registros obedecem a propósitos diferentes e somente o civil é obrigatório e possui efeitos legais.

  • Os símbolos religiosos cristãos, como o crucifixo ou o juramento pela Bíblia, eram frequentes em âmbito público, como escolas e repartições governamentais. Cada vez mais se impõe a tendência de suprimir qualquer exibição religiosa pública e se reduz a presença de autoridades civis a atos religiosos, reservando-se nada mais que aqueles de especial solenidade.

  • A moral estabelecida pelos cultos cristãos impunha as regras para o comportamento dos cidadãos. Atualmente discutem-se, questionam-se ou se rechaçam muitos desses critérios e comportamentos, especialmente no âmbito da sexualidade e da legítima diversidade de opções que cada pessoa tem direito de escolher sem ser discriminada ou estigmatizada.

  • A linguagem religiosa perdeu atualidade, pertinência e relevância social. Palavras e expressões como pecado, céu e inferno, salvação, culpa, penas eternas, castigos divinos, etc. foram desaparecendo do linguajar corrente e circunscrevendo-se aos atos de culto.

  • Em matéria educativa pública, já não se discute a primordial competência do Estado, ficando reservado o ensino da religião ao âmbito familiar e das organizações eclesiásticas.

  • “Crentes mas não praticantes” declaram-se muitos hoje em dia. Essa é outra característica da sociedade pós-cristã que merece atenção. Expressa-se de muitas formas: “Eu creio em Deus, mas não nos sacerdotes”, “eu me confesso diretamente a Deus, não com um homem”, “a Igreja reprime minha liberdade”, etc. Nestas e outras manifestações reflete-se uma espécie de alergia e rechaço às instituições eclesiásticas.

  • Outra característica importante da sociedade pós-cristã é a separação entre confissão religiosa e organização política e social. A liberdade de culto impôs-se nos países modernos e, como consequência, o catolicismo e outras religiões cristãs deixam de gozar de privilégios e vantagens por parte de um Estado que se declara laico. Um governante, incluindo todos os membros de seu governo, podem ser crentes, mas sua fé é um assunto pessoal e não a podem impor ao resto da sociedade.

Como é muito bem sabido, o espiritismo, desde seu início, a partir do ato fundacional que o aparecimento de O Livro dos Espíritos significou, em 1857, desfraldou a bandeira do laicismo, ressaltando o valor irrenunciável da liberdade que permite a cada ser humano administrar suas crenças em matéria de religião, de fé, de transcendência, conforme os ditames de sua razão e sem temor de ser condenado, castigado, anatematizado ou perseguido.

Claro está que o laicismo no qual se inscreve o espiritismo possui uma base inequivocamente espiritualista. Muito distanciado de um laicismo materialista e ateu que promove a indiferença frente às perguntas radicais da existência humana: sua origem e destino, assim como sua referência centrada em uma explicação exclusivamente física, química, biológica, psicológica ou sociológica da vida e da morte, o espiritismo reafirma o reconhecimento da existência de Deus como Inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas; do espírito como entidade psíquica transcendente que preexiste ao nascimento e sobrevive depois do falecimento; do processo evolutivo ascendente do espírito que se verifica em inumeráveis e sucessivas existências; da incessante comunicação entre desencarnados e encarnados por diversidade de meios; e deriva desses princípios uma cosmovisão humanista e progressista que convida à transformação pessoal e social, no quadro dos mais elevados princípios éticos.

Convidando para a compreensão do sentido espiritual da vida, insistindo no respeito pleno e na liberdade das pessoas e dos povos, e sustentado na razão e na ciência, o espiritismo conduz a uma espiritualidade laica, equidistante do catecismo desesperançoso, do materialismo e do dogmatismo sectário e alheio à ciência e à racionalidade das teologias. Uma espiritualidade aberta e tolerante, que, por sobre a base de princípios universais, promove uma cultura de entendimento, convivência, harmonia, generosidade, solidariedade e fraternidade.

  • Uma cultura de respeito pela vida em todas as suas formas.

  • Uma cultura que garanta o exercício da liberdade de pensamento, consciência e crença.

  • Uma cultura de não violência que promova o encontro e a solução pacífica das controvérsias.

  • Uma cultura da solidariedade que impulsione a criação e a consolidação de uma ordem mundial justa, em que se apaguem as ignominiosas diferenças entre privilegiados e deserdados.

  • Uma cultura da verdade no plano da transmissão da informação e o conhecimento, que erradique a mentira.

  • Uma cultura da igualdade entre os povos, as nacionalidades, as etnias ou identidades sexuais, onde não haja lugar para a discriminação.

  • Uma cultura do trabalho, reconhecido como instrumento fundamental da riqueza social, e que seja devidamente remunerado em um ambiente de relações justas e honestas entre empresários e trabalhadores.

  • Uma cultura que promova o funcionamento democrático no exercício político das nações, sustentada no sufrágio livre e transparente, e que erradique toda a sorte de regimes autoritários e tirânicos, com independência do matiz ideológico com que se identificam.

Conceitos como estes, e muitos outros que se podem acrescentar, integram o que denominamos uma espiritualidade ética de orientação espírita sustentada na cultura do amor, e traduzem em termos concretos e atuais a proposta central de Allan Kardec e dos espíritos sábios que o assessoraram, respeito à marcha evolutiva da humanidade rumo a um horizonte superior que se definiu como “um mundo de regeneração moral e social”.

Muito bem faz nossa Associação Espírita Internacional CEPA em conceituar o espiritismo como uma visão laica, humanista, livre-pensadora, plural e progressista, porque ela coincide cabalmente com o modelo de espiritismo pensado e sonhado por Allan Kardec, seu ilustre fundador e codificador.

Jacira Jacinto da Silva
Presidente de CEPA - Associação Espírita Internacional

Dia 20 de maio é festivo para a CEPA, já que CIMA está completando 62 anos de atividade.

Quando pensamos no Movimento de Cultura CIMA, imediatamente nos lembramos de sua referência maior, o amigo querido e hoje símbolo da CEPA, Jon Aizpúrua, que há mais de 50 anos participa ativamente do trabalho espírita realizado na Venezuela.

Pensar em CIMA e em Jon, é recordar também o mentor dessa história David Grossvater, em cuja personalidade, nosso companheiro Aizpúrua se inspirou desde pronto para os estudos espíritas.

Claramente, CIMA tem nesses dois nomes a sua base e a sustentação maior; todavia, não teria permanecido, evoluído e transcendido a tantas dificuldades enfrentadas no país se não tivessem chegado, sempre, outros companheiros valiosos que puseram suas mãos e mentes a trabalho do espiritismo e do importante movimento da Venezuela que hoje faz aniversário.

O CIMA é uma instituição de grande destaque no cenário espírita internacional, não apenas pelo seu envolvimento perene com a CEPA, mas principalmente pela sua trajetória absolutamente comprometida com os princípios kardecistas, voltada ao estudo e à divulgação desta Filosofia que nos anima a prosseguir sempre. As ações, a dedicação e o posicionamento claro de CIMA sempre denotaram extrema afinidade com o viés humanista, pluralista, progressista e fraterno, tão caro à CEPA.

Estudando e difundindo o espiritismo como filosofia, ciência e moral, jamais compactuou com distorções que tanto comprometeram o espiritismo no Brasil.

A CEPA e os espíritas do mundo identificados com a sua forma livre de absorver as lições espíritas se sentem profundamente honrados e agradecidos pelo esforço percebido nos companheiros espíritas que hoje estão à frente de CIMA, por serem capazes de superar todas as dificuldades do trágico momento sociopolítico enfrentado no país, reinventando-se e propondo mais atividades de difusão do pensamento espírita, a despeito das dificuldades do país e agora também apesar da pandemia.

Em nome do Conselho Executivo da CEPA quero expressar meus efusivos cumprimentos ao movimento de cultura CIMA e a todos os seus trabalhadores, do passado e do presente, por terem a iniciativa, iniciarem e darem prosseguimento a esse trabalho exemplar de autêntica vivência espírita.

Agradecidos, estendemos aos companheiros encarnados e desencarnados um carinhoso abraço, desejando que a equipe esteja unida, que o movimento se reforce e se renove a cada época, seguindo como atuam hoje na condição de exemplo para toda a comunidade espírita do planeta.

JACIRA JACINTO DA SILVA

Presidente da CEPA – Associação Espírita Internacional

20 de maio de 2020

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Jacira Jacinto da Silva

President of CEPA – International Spiritist Association

Dear partners,

I feel extremely honored to be able to present through these lines the WORD OF CEPA, while the lights of our III IBEROAMERICAN SPIRTIST ENCOUNTER - held at the city of Vigo, Galicia, Spain, from the 28th of April till the 30TH of 2018 - go off. We’ve had de satisfaction of witnessing the first intercontinental event of CEPA, which has become the International Association in the Congress of 2016 in the city of Rosario, Argentina.

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