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JON AIZPÚRUA
Ex-presidente da CEPA (1993/2000) e atual Assessor de Relações Internacionais
Trinta e três perguntas dirigidas à consciência dos espíritas:
Quantos espíritas são fiéis a umas ideias em vez de ser docilmente leais a umas siglas?
Quantos espíritas admiram alguém que não pense como eles?
Quantos espíritas se permitem ter dúvidas sobre algumas de suas crenças, sustentadas nos ensinamentos de autores encarnados ou desencarnados?
Quantos espíritas se atrevem a questionar ideias expostas por seus autores fundamentais?
Quantos espíritas assumem que no Espiritismo não se trata de crer mas de saber?
Quantos espíritas sucumbem à adoração reverente dos médiuns e dos espíritos?
Quantos espíritas examinam com senso crítico as comunicações mediúnicas?
Quantos espíritas adotam em sua vida a prática quotidiana da leitura e do estudo de textos espíritas e de outras orientações filosóficas?
Quantos espíritas são capazes de superar as interpretações literais?
Quantos espíritas estão dispostos a mudar algumas de suas opiniões?
Quantos espíritas leem ou escutam outros espíritas que pensam diferente?
Quantos espíritas antepõem os ideais e a ambição pelos cargos nas instituições espíritas?
Quantos espíritas exigem mais de si mesmos do que dos demais?
Quantos espíritas acorrem a um debate sem haver decidido previamente quem é seu favorito?
Quantos espíritas estão dispostos a aprender com aqueles que expressam ideias divergentes das suas?
Quantos espíritas compreendem que o amor, entendido e praticado, é o fundamento da vida e da evolução?
Quantos espíritas permitiram-se amar alguém com uma ideologia diferente?
Quantos espíritas consideram que não são necessariamente melhores que seu vizinho?
Quantos espíritas sabem perdoar?
Quantos espíritas preocupam-se com as questões sociais e entendem a necessidade de analisá-las e de se pronunciar sobre elas?
Quantos espíritas tomam consciência das injustiças sociais, a fome e a miséria que maltrata milhões de seres humanos e não buscam justificá-las como “dívidas” e “expiações” de vidas anteriores?
Quantos espíritas oferecem o concurso de sua participação ativa para corrigir os males que afetam a humanidade e atrasam seu processo evolutivo?
Quantos espíritas estão completamente à margem de teorias ou práticas discriminatórias, homofóbicas, racistas e xenofóbicas?
Quantos espíritas denunciam o horror e o sofrimento provocado por regimes teocráticos, fundamentalistas e fanáticos?
Quantos espíritas creem realmente na igualdade entre todos os seres humanos?
Quantos espíritas assumem a vigência da liberdade individual, social e política, como requisito indispensável para o progresso material e espiritual?
Quantos espíritas respaldam a liberdade e a democracia para todas as nações, sustentadas no pluralismo político, separação de poderes, liberdade de expressão e de reunião, e eleições limpas para a escolha dos governantes?
Quantos espíritas denunciam os regimes tirânicos ou autoritários, com independência do viés ideolótico ou político que os identifica?
Quantos espíritas estão dispostos a censurar a corrupção, no âmbito público ou privado, sem matizes, atenuantes nem exceção?
Quantos espíritas estão dispostos a defender o império das leis no quadro do estado de direito, ainda quando podem se ver afetados seus interesses particulares?
Quantos espíritas promovem a paz no mundo sobre a base da coexistência respeitosa entre as nações e rechaçam as guerras e o uso da força das armas para conquistar territórios?
Quantos espíritas compreendem que não há um “além” feliz para os desencarnados se não se constrói um “aqui” justo, equilibrado, harmônico e fraterno?
A quantos espíritas, finalmente, importa o espiritismo?
A CEPA, como entidade kardecista, laica, livre-pensadora, humanista, pluralista, progressiva e progressista, constitui um espaço aberto no qual se sintam cômodos todos os espíritas que se impressionem e reflitam diante de perguntas como estas e decidam, como sugeria Kardec, atrever-se a pensar, a privilegiar a razão e antepor os valores éticos como guias de suas convicções. Isso é indispensável para a consolidação de um movimento espírita que possa contemplar sem complexos o século XXI e enfrentar com êxito seus enormes desafios.
Dante López
Ex-presidente da CEPA (2008/2016)
Semelhanças e Diferenças
Há algum tempo, Yolanda Clavijo, Presidente de CIMA Venezuela, sugeriu-me um tema específico para o ciclo que organizam com muita dedicação há vários anos via Zoom: “Constelações Familiares”;
Como conheço o tema, sem ser especialista, convoquei uma amiga, a Licenciada em Psicologia Alejandrina Cianflone, para nos apresentarmos nesse espaço com uma espécie de conversação informal contrastando: “Semelhanças e diferenças entre a Sessão Mediúnica e as Constelações Familiares”.
Alejandrina, que já tem muitos anos como Terapeuta Gestáltica e como Consteladora ajudou-nos a entender quais são os fundamentos dessa Ferramenta Terapêutica que teve sua origem em um Psicoterapeuta alemão, Bert Hellinger.
Em seu livro “As Ordens do Amor”, Hellinger explica sua teoria, baseada na existência de uma memória familiar coletiva, na qual postula que as relações familiares interpessoais se fundam no amor como base e aspiração do ser humano, mas também diz que “Sem Ordem não há amor”.
Como todas as teorias, esta tem seus seguidores e seus detratores, de formas que nos pusemos a desvendar o fio que tece a meada das relações familiares à luz dessa Teoria Filosófica, como gosta de chama-la seu fundador.
A comparação com a Sessão Mediúnica faz-se necessária porque, em primeira medida, somos espíritas laicos, progressistas e livres-pensadores e, portanto, estamos em uma busca constante de atualização de métodos e contribuições que possam ajudar a entender o sentido da vida e as infinitas variáveis que conduzem à espiritualidade.
As “Constelações” são espiritualistas em essência, já que, como dissemos, parte da existência de uma “alma” ou “consciência familiar” que incide na existência de um ou vários membros de cada grupo familiar, geração a geração.
A Doutrina Espírita propõe, por sua vez, que os espíritos encarnam em grupos e que, existência a existência, vão criando laços de amor e também conflitos, sem resolvê-los, que vão criando uma urdidura de relações espirituais intergeracionais, podendo alcançar várias gerações.
Assim, a raiz é similar, ou seja, estamos falando em ambos os casos que há uma inteligência espiritual que antecede e sobrevive ao corpo físico e se manifesta de diferentes maneiras e por métodos diversos.
Em uma sessão mediúnica, um espírito familiar pode nos fazer saber de suas angústias não resolvidas, assim como um espírito encarnado pode manifestar a necessidade de cumprir algum mandato que não compreende.
Em ambos casos supostos, tanto uma sessão mediúnica, como uma Constelação, realizada por pessoas idôneas em um ambiente saudável, podem vir informações pertinentes que colaborem com a resolução de conflitos intergeracionais.
Não é minha intenção desenvolver aqui toda a teoria, mas apenas gerar inquietação ao leitor que investigue o tema e o veja como outro caminho alternativo na busca da espiritualidade.
Para quem se interesse em conhecer mais, acessar https://youtu.be/7SutjHkOMus
Nesta primeira parte do Século XXI, os espíritas nos sentimos de parabéns. Já não se referem a nós como uns lunáticos em busca de utopias transcendentes. Qualquer pessoa que se tenha por bem informada e com algum nível de cultura trabalha hoje conceitos como Reencarnação e Vidas Sucessivas com total naturalidade. A Biologia, a Física, a Psicologia Transpessoal e muitas outras disciplinas vêm corroborando os postulados espíritas em uma velocidade incrível.
Falta a nós, espíritas, uma forma consistente de trabalhar a consecução de métodos seguros e confiáveis para que a Sessão Mediúnica Kardeciana, um verdadeiro achado de Kardec, que conseguiu dar à Mediunidade controle e contenção, siga sendo a Ferramenta Espírita por excelência.
Milton Medran Moreira
Assessor de Relações Internacionais da CEPA
O equilíbrio entre as leis de conservação e de progresso
Milton R. Medran Moreira
Assessor de Relações Internacionales da CEPA
O homem e as instituições, embora tendam ao progresso, demoram-se na superação dos estágios a que chegaram.
Da mesma sorte que há uma lei de progresso, perdura uma de conservação. Ambas desempenham papéis de importância. Se aquela impulsiona o homem para frente, esta consolida suas conquistas. Se aquela escreve a fascinante aventura do homem sobre a Terra, esta fortalece os valores amealhados. Se aquela assume riscos, esta recomenda prudência.
Mas é inevitável, na história de cada indivíduo e de cada uma de suas instituições, o momento do choque das duas tendências.
Inevitável também é a crise decorrente do choque. Sem ela as mudanças não se operam.
Um movimento de ideias das dimensões do espiritismo não está infenso ao entrechoque de pensamentos, nem à crise e, tampouco, às mudanças.
É certo que na base do pensamento espírita estão sólidos princípios que balizam e identificam sua filosofia. Mas princípios, embora basilares, não podem dar lugar à estagnação do processo de ampliação do próprio entendimento e aplicabilidade daqueles postulados.
Imortalidade do espírito, comunicabilidade, evolução pelas vidas sucessivas são princípios gerais, de caráter permanente, gravados em nossas consciências e aos quais chegamos pela via da racionalidade. Sua compreensão, todavia, e a respectiva aplicação à vida tanto podem servir à cristalização de ideias e procedimentos quanto ao progresso e atualização constantes.
Em tempos recuados, esses mesmos princípios se constituíam em conceitos privilegiadamente compartilhados por uns poucos iniciados que os guardavam a sete chaves. Sua vulgarização é obra das religiões que, no entanto, arbitrariamente, deles se apropriaram, cercando-os pelo mistério da sacralidade e da sobrenaturalidade.
A proposta espírita é de inserir Deus, a imortalidade e a ideia da vida futura no mesmo conceito da naturalidade e da vida. Só assim esses princípios se dinamizam e operam o efeito objetivado pelo espiritismo: a melhoria do homem e do mundo.
Apesar da clareza dessa proposta, o movimento que institucionalizou o espiritismo fê-lo fascinado por uma visão religiosa de seus princípios.
Visto religiosamente o espiritismo dissocia-se da vida, que não é religiosa, mas natural.
Visto como lei natural, ele ilumina a vida em todas as suas manifestações, fazendo-se dinâmico como ela própria.
É claro que essa visão natural de dogmas há séculos aprisionados pelas religiões como bens de sua exclusiva propriedade e administração gera crise. A crise da mudança. Até porque também se dogmatizou a ideia de que o bem e a virtude são valores religiosos, quando, na verdade, são conquistas decorrentes da própria compreensão da vida, no seu dinamismo e integralidade.
Ao cristalizar a visão religiosa do espiritismo, o movimento deu lugar ao desequilíbrio entre a lei da conservação e a do progresso .
A reação que a isso fizeram, em toda a caminhada do espiritismo, alguns de seus segmentos, dentre os quais, e vigorosamente, a CEPA, sempre deram lugar a crises. Como de regra, essas crises produziram e seguem produzindo mudanças.
Vivemos, no movimento espírita contemporâneo, um típico momento de mudanças. A CEPA – Associação Espírita Internacional, inserida que está nesse processo dialético, sente-se imensamente gratificada por presenciar e vivenciar esse momento. Ele indica o atingimento de uma síntese, ou, utilizando-nos da terminologia kardeciana, aponta para a conciliação entre a lei de conservação e a lei do progresso.
Jacira Jacinto da Silva
Presidente de CEPA - Associação Espírita Internacional
Prezadas e prezados, passamos três dias juntos e foi extremamente positivo!
Tudo passa nesta vida e o nosso colóquio também se vai ...
Entretanto, o balanço não poderia ser melhor.
Antes de tudo temos de reconhecer que sabemos muito menos do que nos falta conhecer. Essas jornadas de estudo são oportunidades especiais que bem aproveitadas servem a quem busca verdadeiramente conhecer o Espiritismo e viver segundo seus postulados.
Diante de tantos ataques à Teoria Espírita, intencionais ou não, passar três dias debatendo o seu conteúdo com pensadores de alto nível e comprometidos com a mais autêntica e legítima honestidade intelectual, é um regalo para todos nós. Significa também, importante evolução do conhecimento.
Desde o dia em que Leon Hipollyte Denizard Rivail questionou a possibilidade de um objeto dar respostas inteligentes às questões propostas, a humanidade passou a acessar novas informações provenientes da dimensão espiritual, demasiadamente impactantes e suficientes para promover uma verdadeira revolução no conhecimento humano.
Arthur Conan Doyle denominou esse momento histórico de “invasão organizada”. De fato, saber que somos espíritos imortais em constante crescimento e possuímos diferentes corpos nas sucessivas encarnações, implica completa inversão do pensamento até então dominante, de que seríamos um corpo e teríamos uma alma, cujo destino após a morte física seria o céu ou o inferno a depender do julgamento divino.
Esse ponto de partida suscitou inúmeras dúvidas, desvendou um horizonte de questões infindáveis e desencadeou a busca por mais conhecimento. Passados mais de um século e meio, muitas frestas foram abertas, colocando luz no obscurantismo então vigente; entretanto, a vida que levamos, pautada no egoísmo e em todas as consequências perversas derivadas desse vício maior, sinaliza para o estágio de primariedade dominante em nossos dias.
Não me refiro aos outros; não reflito sobre o que religiosos, filósofos, agnósticos e ateus, não são capazes de fazer. Não, queridos companheiros, minha consciência me obriga a falar de uma humanidade carente de amor, desprovida de solidariedade e de todas as virtudes necessárias para reconhecer que é impossível construir um estado de felicidade, mirando apenas nos próprios interesses. Nós, é o pronome mais adequado para expressar quem são os seres humanos que não absorveram ainda nem mesmo a frase atribuída a Jesus de Nazareth, que teria sido dita há séculos - dois mil anos, propondo fazermos aos outros o que gostaríamos que nos fosse feito.
O que faremos com o conhecimento adquirido nesses três dias de estudo? Todos os temas foram trabalhados com maestria e poderão implicar em alguma melhoria de nossa vida e do nosso mundo se soubermos transformá-los em atitudes.
Kardec organizou as pilastras que sustentam o Espiritismo, porém, é nosso papel construir o edifício, estudando, trabalhando, agindo, transformando dores em alegria. Esse é o grande desafio. Saber para fazer, pois em pleno Século XXI vivemos atormentados por fome, guerra, doença, violência, abandono e indignidade, marginalidade, vícios, discriminação, destruição, desrespeito etc.
Evidentemente, essa situação de tantas injustiças sociais revela um paradoxo, já que em 1857, 90 anos antes da DUDH, o espiritismo preconizou a defesa dos direitos fundamentais, assegurando, especialmente, o respeito aos direitos humanos. Logo se vê sua característica vanguardista.
Levado em conta o tempo de existência da humanidade, o Espiritismo seria um recém-nascido; entretanto se pensarmos que em 20 anos experimentamos um extraordinário avanço tecnológico, concluiremos que já vivemos tempo suficiente para produzir melhores resultados com essa filosofia gigantesca, inovadora e vanguardista.
Certos da existência de Deus, não como alguém que julga e condena, mas como o desabrochar de um novo dia pela força da energia que no nascimento do sol, ilumina e dá vida; convictos da sobrevivência da alma e na possibilidade da comunicação mediúnica; cientes da lei de evolução neste e em outros mundos e principalmente compreendendo a reencarnação como uma oportunidade grandiosa e misericordiosa para aprender e crescer sempre, podemos fazer muito mais.
Começamos este nosso 1º Encontro Euroamericano com a apresentação de uma peça artística belíssima, falando que “vale a pena saber que se pode”, propondo “esperança” e alertando que “nunca se alcança se nunca se tenta”.
Temos de sonhar, esperançar, viver diariamente a utopia que nos faz dar um passo à frente. Acreditar que se pode e dedicar energia para realizar; foi para isso que embarcamos nesta viagem e não podemos voltar sem nenhuma bagagem.
Certamente, não temos parado para refletir sobre o estágio de barbárie e ignorância em que nos encontramos. A informação de que o planeta terra está mais próximo dos mundos primitivos do que dos mundos felizes, celestes e divinos, faz muito sentido neste panorama atual, de dor e sofrimento, em que nos mostramos incapazes de nos sensibilizar com a dor do semelhante.
Que pensar de um mundo em que uma mulher declara em conversa trivial, possuir 30 batons novos, na caixa, sem abrir. No mesmo contexto, uma Instituição filantrópica, dedicada a minimizar a injustiça social lhe pede uma contribuição mensal, equivalente ao valor de um baton, mas sua resposta é de que “não pode” e, de fato, não se compromete. Que mundo é esse?
Quantos de nós tem refletido sobre nosso verdadeiro papel nesta existência? Não estamos todos aqui para fazer a mesma coisa, mas sim, viemos todos trabalhar para um objetivo comum: a transformação do planeta em um mundo mais justo, mais solidário, mais digno, melhor etc.
Falamos de empatia, de produção de felicidade, sobre a necessidade da paz, de respeito ao avanço científico, a saúde da humanidade e de tantos outros temas valiosos e importantes para a evolução; entretanto, em nosso dia a dia somos refratários a esses sentimentos nobres. Para sustentar a alteridade e o respeito, incumbe-nos escutar o outro, dar-lhe voz, verdadeiramente considerar a sua opinião, e não pretender que apenas aceite nosso ponto de vista, ou desprezá-lo quando não se mostra em conformidade com a nossa opinião.
Não olvidemos o objetivo do espiritismo, de promover a transformação da humanidade, conforme Kardec em O Livro dos Médiuns. Podemos começar, como foi sugerido neste colóquio, reconhecendo que somos todos diferentes e que não temos o mesmo nível de compreensão.
Assim, prezados companheiros, estamos encerrando esta bela jornada, em que muito foi dito, com esforços extraordinários de todos.
Considero que fomos agraciados com uma importantíssima chance de estudo, reflexão, compartilhamento e amizade. Esses são gestos generosos que por si mesmos carregam uma conotação pedagógica; afinal, dedicar todo um fim de semana à discussão de temas relevantes e atuais, é também doação.
Muito obrigada a todos. Gratidão imensa aos companheiros que não arredaram pé, assistindo, aplaudindo e apresentando questões. Por certo trouxeram grandiosa colaboração que precisamos absorver, reproduzir, fazer valer em nosso dia a dia.
Também aos expositores deixamos nosso abraço de gratidão, lembrando que estão promovendo ao mesmo tempo, nosso aprimoramento intelectual e o avanço da CEPA.
Quiçá possamos melhorar, ainda que minimamente, o nosso estilo de vida na rotina diária, experimentando praticar a ética, a tolerância, a partilha, o respeito à diversidade.
Homens, mulheres, população LGBTQI+, pretos, brancos, amarelos, com ou sem deficiência física, com mais ou menos dinheiro, jovens ou idosos, somos todos viajantes, com tempo indeterminado para regressar, mas muito seguros de que não poderemos levar em nossas bagagens nenhum bem material.
Mais uma vez, nossa imensa gratidão a todos que contribuíram para a realização desse encontro, técnicos, tradutores, apresentadores, assistentes, conferencistas e artistas.
Parabenizo e agradeço uma vez mais, aos organizadores Mercedes, David, Rosa, Juan, Nieves Antonio e Pura, pelo extraordinário e irreparável trabalho, elaborado em curtíssimo prazo. Muchas gracias, queridos.
Vamos desfrutar logo mais de mais um trabalho artístico. Depois, devemos descansar e seguir refletindo até o nosso próximo encontro, quando avançaremos um pouco mais em nossas descobertas intelectuais.
A CEPA externa sua imensa e eterna Gratidão a todos.
Um abraço meu, muito carinhoso. Muito obrigada a todos.
Ademar Arthur Chioro dos Reis
Assessor Especial da Presidência da CEPA
A Palavra da CEPA
Decorridos mais de dois anos da eclosão da pandemia de Covid-19, que já causou 509 milhões de casos e 6,2 milhões de mortes em todo o mundo, aos poucos a vida começa finalmente a ganhar ares de normalidade.
O quadro sanitário internacional, todavia, é marcado ainda por muitas incertezas. Em meados de abril foram registrados óbitos por Covid em 66 países, com números expressivos na Rússia, Coreia do Sul e Tailândia. A Organização Mundial de Saúde considera que a pandemia ainda não acabou e alerta para a necessidade de enfrentar a iniquidade e ampliar a cobertura vacinal para que pelo menos 85% da população de cada país receba as doses necessárias da vacina. Entretanto, até a última semana de abril, apenas 15,4% das pessoas que vivem em países de baixa renda tomaram pelo menos uma dose da vacina, gerando uma situação de insegurança sanitária, já que há possibilidade de desenvolvimento de novas variantes.
Assim que surgiu a pandemia, a CEPA rapidamente procurou se adaptar aos novos desafios. Utilizando de forma precoce e intensiva aplicativos de comunicação social, promoveu inúmeros eventos, culminando com a realização, de forma virtual, em 2021, do seu Congresso Internacional, brilhantemente presidido por David Santamaria, do Centro Barcelonês de Cultura Espírita. Lançou, também, seis livros da primeira série da “Coleção Livre-Pensar: espiritismo para o Século XXI”, disponibilizados gratuitamente no site da CEPA em quatro línguas (português, espanhol, inglês e francês).
Após a avassaladora onda causada pela variante Ômicron, que causou uma nova explosão de casos, ainda que menos mortes tenham sido mais registradas em função da vacina, observa-se, enfim, em muitos países, uma regressão da doença e o relaxamento de medidas de distanciamento físico. Com isso, a maioria das organizações espíritas vinculadas à CEPA, observando normas sanitárias, retomou progressivamente suas atividades presenciais.
Sem prejuízo de atividades virtuais, que permitem conectar, de forma rápida e baixo custo, espíritas em todos os cantos do planeta, a retomada das atividades presenciais possibilita que nossas instituições possam cumprir um papel essencial neste momento tão delicado.
O futuro é para muitos angustiante e incerto, já que projetos de vida foram interrompidos pela pandemia e as perdas pessoais foram imensas. A crise econômica atingiu fortemente a população na maioria dos países. Muitos abandonaram os estudos, perderam empregos, empobreceram. Outros que sobreviveram à doença ainda lidam com suas complicações e tiveram suas forças físicas comprometidas, exigindo cuidados permanentes.
É preciso considerar, sobretudo, o impacto sobre a saúde mental, em particular daqueles que viveram o isolamento, o medo da morte e que perderam parentes e amigos. Muitos buscaram lenitivo no álcool e nas drogas. O aumento de transtornos mentais é uma realidade. Para além da perda econômica, lidar com a morte de entes queridos tem sido angustiante para muitos. Dúvidas sobre o que acontece após o desencarne, o destino dos entes queridos que partiram, sobre a vida no mundo espiritual, e outros temas sobre os quais a filosofia espírita tem enorme contribuição para a sociedade, fazem com que as instituições espíritas sejam chamadas a cumprir um papel essencial nesse momento de crise existencial que sucede ao da crise sanitária.
Preceitos filosóficos espíritas, como a imortalidade da alma, a evolução infinita e a reencarnação, podem contribuir para uma consoladora e produtiva educação “para” e “sobre” a morte. O exercício criterioso da mediunidade também é fonte de conhecimentos e de apoio espiritual aos entes encarnados e desencarnados que tanto sofrem nesse momento.
A hora exige solidariedade e disposição para acolher todos aqueles que se interessem em compreender o destino do ser, de compartilhar a visão espírita sobre o homem e o mundo. O espiritismo, para além de uma mensagem consoladora ou da pretensão de dar explicações sobre todas as coisas, se compreendido a partir de uma concepção laica, livre-pensadora, progressista e kardecista, produz uma perspectiva generosa, abrangente e profundamente esperançosa do porvir.
Não poderíamos deixar, por fim, de manifestar o posicionamento da CEPA sobre a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que evolui sem perspectivas de uma solução pacífica, somando cenas de horror, estupidez e barbárie.
Repudiamos a violência. Qualquer solução para conflitos entre nações deve ser buscada a partir do diálogo. Somos a favor da paz e do entendimento entre os povos, que devem ser obtidas por vias diplomáticas. É preciso dar uma basta a tanto sofrimento, dor e destruição. Interesses econômicos ou políticos, explícitos ou subjacentes, assim como nenhuma razão de Estado ou de segurança nacional são capazes de justificar esse ou qualquer outro conflito armado.
Queremos um planeta que viva em paz, onde reine o respeito e a solidariedade. Isso só será possível quando vivermos como irmãos, compreendendo e praticando a Lei de Justiça, de Amor e de Caridade, como nos ensina Allan Kardec em O Livro dos Espíritos.
Jon Aizpúrua
Ex-presidente da CEPA (1993/2000) e atual Assessor de Relações Internacionais
Nós, espíritas, costumamos falar de "espiritismo" no singular, quando nos referimos à doutrina fundada, sistematizada ou codificada por Allan Kardec no século XIX. Diz-se, reiteradamente, que o "espiritismo é um só" e que a causa das divergências que costumam aparecer e reaparecer em momentos diferentes deve ser debitada às condições espirituais, intelectuais ou morais, particulares de cada um de seus seguidores, sejam eles encarnados ou desencarnados, médiuns ou não, atribuido-se também um peso significativo à influência de tendências negativas derivadas do orgulho, dos preconceito ou das crenças provindas do dogmatismo ou do fanatismo.
No entanto, estamos convencidos de que seria muito mais adequado usar essa palavra no plural, "espiritismos", se quisermos abrir os olhos para o que já é uma realidade do que aconteceu e está acontecendo com a proposta kardecista, e não apenas sucumbir aos nossos desejos. Deixaremos agora de lado, para efeito de nossa exposição, os sincretismos, nos quais as crenças católicas e as tradições africanas e indo-americanas se amalgamam com práticas mediúnicas exuberantes e heterogêneas cujos participantes não hesitam em se apresentar como espíritas, como fazem os membros de grupos que se constituíram em torno das opiniões ou ensinamentos dos ditos Mestres ou entidades espirituais superiores e que rejeitam ou subestimam explicitamente a orientação kardecista. E tampouco trataremos do chamado “espiritualismo moderno”, muitas vezes indevidamente denominado “espiritismo anglo-saxão”, um de cujos traços distintivos é a rejeição da tese reencarnacionista.
Por si sós, as menções anteriores confirmam essa pluralidade de espiritismos a respeito da qual comentamos, mas a nossa reflexão não vai exatamente nessa linha, e sim quer chamar a atenção para as numerosas e variadas modalidades apreciadas no movimento espírita mundial, seja em grupos, sociedades, fraternidades, federações de âmbito nacional e internacional; também em congressos ou em publicações ou nas declarações e exposições de dirigentes, escritores, oradores ou médiuns, sem falar nas práticas mediúnicas em que florescem diferentes critérios ou ocorrências, tornando as diferenças abismais. A realidade objetiva é que instituições e pessoas que, nuances à parte, reconhecem a obra de Kardec como sua referência essencial, fazem leituras bastante díspares e às vezes antagônicas do mesmo espiritismo e do pensamento de seu fundador.
Em nossa opinião, reconhecer e assumir essa pluralidade já é questão de senso comum, porque os fatos claramente o indicam. E parece-nos do maior interesse refletir sobre as causas e as chaves das divergências que separam os espíritas. É evidente que não há diferenças substanciais quanto ao reconhecimento e proclamação dos postulados básicos que definem o espiritismo: Deus, espírito, sobrevivência, evolução, reencarnação, causalidade espiritual, mediunidade, vida universal. No entanto, existem, e muito profundas, no que se refere às concepções, explicações ou interpretações desses princípios e suas derivações ou aplicações.
A primeira coisa que se deve fazer é analisar se os ensinamentos de Kardec, fruto de suas pesquisas e as orientações ditadas pelos Espíritos que o assessoraram, foram claros e explícitos o suficiente para a resolucão de todas as questões filosóficas, científicas, éticas e materiais ou espirituais, que se propuseram a examinar seguindo um esboço metodológico admirável. Neste ponto crucial, podemos encontrar a raiz das divergências que deram origem aos vários espiritismos.
Convém lembrar que Kardec advertia com insistência que o espiritismo deveria avançar com o progresso e retificar-se no que estivesse errado, e é como se procede quando se trata de uma doutrina filosófica e científica de consequências morais, sobre a qual sentenciou que “seu verdadeiro caráter é o de ciência e não religião ”. Sobre assuntos muito diversos, ele esclareceu que havia formulado algumas teorias hipotéticas sujeitas a aguardar sua confirmação no futuro, sob pena de serem descartadas. Infelizmente, essas definições, que nos parecem claras e precisas, são, no entanto, ignoradas, ou mal interpretadas, submetidas a um processo de ressemantização para que não digam o que dizem e não signifiquem o que realmente significam.
Mesmo assim, deve-se admitir que, em certos pontos, o ilustre pensador francês não foi suficientemente explícito, incorreu em ambiguidades e contradições, e não conseguiu ir além dos moldes da teologia cristã ou das noções científicas vigentes em seu tempo. Assim, alguns espíritas usam suas opiniões para sustentar as suas próprias, enquanto outros, com as mesmas citações, sustentam conceitos muito diferentes.
Muitos espíritos, a maioria aliás, em contradição com o projeto kardecista, assumem o espiritismo como religião, ou mesmo como “A” religião. Eles assumem que nas obras básicas de codificação tudo é dito e que tudo o que é dito é absolutamente verdadeiro, indiscutível e intocável. Eles consideram que a missão do espiritismo é o restabelecimento do "cristianismo primitivo ou original" e, por conseguinte, a evangelização representa a síntese da tarefa a ser realizada no mundo. E se formos para a linguagem que eles usam, é tão mística, adocicada, piegas e conservadora, que supera a de qualquer uma das muitas congregações evangélicas que competem para ganhar seguidores em todos os lugares. Quantas vezes lemos ou ouvimos, para nosso espanto, que os representantes do espiritismo cristão se apresentam como "os trabalhadores de Jesus" e que o seu trabalho consiste em "conduzir mais ovelhas ao rebanho do Senhor"! Aliás, a cada dia uma concepção desnaturada de Jesus, que eles dizem "nem homem nem Deus", ganha mais força nesse movimento, confirmando que adotaram a tese roustainguista do Jesus fluídico e se afastaram do ensino kardecista, no que diz com a condição humana, inteiramente natural a Jesus.
Aqueles de nós que se definem como espíritas laicos, livres-pensadores, não religiosos, humanistas, universalistas, racionalistas, pluralistas, progressivos e progressistas, pensam de forma diferente. Expressamo-nos com uma linguagem bem distina, concebendo diferentes caminhos e objetivos para o projeto kardecista, e portanto, estamos situados em outro espiritismo. Não pretendemos ter a verdade, que por definição é impossível de ser detida ou apreendida em termos definitivos ou absolutos. Na melhor das hipóteses, seria a nossa verdade. Com humildade reconhecemos as nossas limitações, mal compensadas pela vocação que nos impulsiona ao estudo, o uso da razão, a dúvida e a procura do conhecimento mais do que a crença, e o exercício do direito inalienável à liberdade de pensamento, de consciência e de expressão, livre de idéias supersticiosas provenientes da cultura do pecado ou da culpa. Não temos vocação de ovelha, preferimos sentir-nos como águias que estendem as suas majestosas asas para voar livremente às alturas e ver novos e mais amplos horizontes.
Estabelecer essas precisões relativamente aos limites que nos separam dentro do movimento espírita não apenas implica em reconhecer uma realidade por todos conhecida, como também de que isso pode ser assumido com espírito sereno, com disposição para o diálogo e para o estabelecimento e consolidação de um clima fraterno nas relações que hão de primar entre os espíritas, respeitando o que cada um, conforme seu livre arbítrio, entenda ou aceite.
Com frequência, costuma-se apontar que “entre os espíritas há mais o que nos una do que nos separe”, e isso é correto se estamos nos referindo aos postulados centrais da doutrina espírita, os que constituem seu núcleo duro, mas, como temos dito, assim não é quando se trata de definir o espiritismo e abordá-lo em todas as suas implicações e análises de cada um desses princípios e a complexidade de suas consequências.
Há espaços e momentos adequados para os vários espiritismos comunicarem, dialogarem e partilharem conhecimentos e experiências. Um diálogo sem desqualificações e independentemente da pretensão de querer converter alguém. Quem sabe se um diálogo assim praticado poderia resultar em um benefício significativo para a compreensão e difusão do Espiritismo, este, no singular e com maiúscula.