Ricardo Nunes
Salomão Jacob Benchaya

Diretor Administrativo da CEPA.

Os congressos da CEPA guardam o formato preconizado por Kardec no seu Projeto 1868, marcados, tradicionalmente, pela apresentação de temas resultantes de estudos e pesquisas que contribuem para o avanço do pensamento espírita em interface com as diversas áreas do conhecimento, o que os torna bem distintos dos torneios de oratória em que se transformaram grande parte desses eventos no movimento brasileiro.

O Brasil já sediou três Congressos e uma Conferência da CEPA que, de alguma forma, tem influenciado positivamente o movimento espírita nas últimas décadas.

Fundada na Argentina, em 1946, a CEPA realizou o seu 2º congresso, de 3 a 12 de outubro de 1949, no Rio de Janeiro, presidido por Aurino Barboza Souto e secretariado por Deolindo Amorim, do qual participaram destacados espíritas brasileiros como Lins de Vasconcellos, Carlos Imbassahy, Lauro Sales, Francisco Klors Werneck, o deputado Campos Vergal, o coronel Delfino Ferreira, Leopoldo Machado, João B. Chagas, Eden Dutra Nascimento, Sebastião Costa, Eurípedes de Castro, além de representantes de federações estaduais do Brasil, desde Pernambuco até o Rio Grande do Sul.

Esse congresso foi organizado pela Liga Espírita do Brasil, instituição federativa representativa de um modelo de espiritismo mais kardecista e sua realização acabou propiciando condições para que o movimento espírita brasileiro se organizasse em torno da FEB (Federação Espírita Brasileira) com a assinatura da Ata que ficou conhecida como Pacto Áureo.

A FEB nunca aceitou filiar-se à CEPA e desta se distanciou, particularmente a partir do 3º congresso pan-americano, realizado em Cuba, em 1953.

Durante 51 anos, a CEPA realizou seus congressos e conferências na Argentina, Cuba, México, Venezuela, Porto Rico, Colômbia, Chile, Honduras e U.S.A.

Somente no ano 2000 a CEPA voltou oficialmente ao Brasil com a realização de seu XVIII Congresso Espírita Pan-americano, em Porto Alegre-RS, graças ao empenho do psicólogo e professor universitário venezuelano Jon Aizpúrua, que presidia a CEPA desde 1993, e ao suporte que lhe ofereceram espíritas laicos, notadamente de São Paulo – liderados por Jaci Regis e o chamado “Grupo de Santos” – e do Rio Grande do Sul.

No aludido congresso de Porto Alegre, cujo tema “Deve o espiritismo atualizar-se?” suscitou acirrados debates e controvérsias, sendo objeto de boicote tanto da FEB quanto da FERGS (Federação Espírita do Rio Grande do Sul).

Na ocasião, foi eleito o promotor de justiça Milton Rubens Medran Moreira como presidente da CEPA, passando esta a ter sede no Brasil, até 2008.

É oportuno recordar que, com o intuito de evitar falso entendimento acerca dos propósitos da CEPA, a comissão organizadora do XVIII Congresso elaborou e publicou, com mais de um ano de antecedência, uma “DECLARAÇÃO DE INTENÇÕES”da qual pincei alguns tópicos, já que nem todos os leitores a conhecem:

1. Em hipótese alguma, a CEPA alimenta o propósito de, no ano 2000, em um único congresso, efetuar a revisão pontual da Doutrina Espírita.

2. É indiscutível a atualidade de partes importantes e fundamentais da obra de Kardec, não superadas pela Ciência, que serão, óbvia e plenamente, reafirmadas pelo Congresso.

3. Os organizadores do Congresso entendem que atualizar o Espiritismo é torná-lo atual, situá-lo na época em que vivemos, torná-lo presente e atuante em todos os setores do pensamento humano.

4. Em hipótese alguma, sob pena de violação de direitos autorais, podem ser alterados os textos ou expressões das obras de Allan Kardec, como os de qualquer autor. Já as ideias, concepções e teorias expostas nas obras da Codificação e nas que lhe são complementares, como o próprio fundador do Espiritismo afirmava, não sendo mais do que a expressão do conhecimento dos seus autores, subordinadas ao contexto de uma época, são passíveis de revisão e de atualização.

5. Não serão objeto de discussão, neste Congresso, os postulados básicos do Espiritismo - Deus, Imortalidade, Comunicabilidade, Reencarnação, Mundos Habitados, Evolução. Todavia, poderão ser questionados conceitos e interpretações a eles referentes expressos na literatura espírita por autores encarnados ou desencarnados ou que se tornaram correntes entre os espíritas.

6. Embora os congressos da CEPA possuam amplo caráter deliberativo, este não tomará deliberações no que concerne ao conteúdo doutrinário das propostas, exposições, teses e/ou trabalhos que ali forem apresentados. Estes se constituirão em subsídios para novas pesquisas, experimentos e estudos, em áreas específicas, por parte de pessoas e/ou instituições, com a participação dos Espíritos, cujos resultados e conclusões retornarão ao debate em futuros simpósios, seminários, congresso etc.”

O XXI Congresso Espírita Pan-Americano teve como tema central “Perspectivas Contemporâneas da Teoria Espírita da Reencarnação”, realizado na cidade de Santos-SP, Brasil, de 5 a 9 de setembro de 2012, já apresentava retificações a alguns enfoques distorcidos sobre o tema, difundidos popularmente entre os espíritas.

Em 2003, é fundada a CEPAmigos, depois transformada em CEPABrasil-Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA, que passa a exercer influente papel no movimento espírita do Brasil.

Um novo ciclo de crescimento acontece na CEPA. Aos poucos, ela vai perdendo sua vocação federativa e tornando-se, principalmente, um movimento de ideias, um espaço de reflexão e de encontro de diferenças.

As administrações de Dante López (Argentina) e Jacira Jacinto da Silva (Brasil) que sucederam à de Milton Medran Moreira prosseguem modernizando a CEPA, não só no aspecto administrativo e tecnológico mas, sobretudo, granjeando simpatia de uma expressiva parcela de espíritas, inclusive estabelecendo intercâmbio e parcerias com pessoas, instituições e grupamentos com propostas similares, o que vem permitindo, graças aos modernos recursos digitais, visibilidade a coletivos e pensadores brilhantes com os quais a CEPA também se atualiza e intercambia conteúdos sintonizados com o pensamento filosófico e com o conhecimento científico contemporâneos.

Desses coletivos e de pensadores espalhados por todo o país, com os quais a CEPA vem interagindo, tem brotado propostas renovadoras que se materializam em uma verdadeira enxurrada de livros não mediúnicos e de eventos que prometem estabelecer um novo paradigma doutrinário que recoloca a espiritismo no campo das discussões científicas e filosóficas o que, certamente, enriquece o multifacetado movimento espírita mundial.

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