Ricardo Nunes
Ricardo de Morais Nunes

Presidente da CEPABrasil e Membro do Departamento de Pesquisa e Produção de Conteúdo da CEPA (Coleção Livre-Pensar).

O espiritismo, como filosofia integral que busca compreender o ser em sua totalidade, pode ser dividido, pelo menos, em cinco campos temáticos fundamentais.

O CAMPO FENOMÊNICO

O espiritismo realça uma variedade de fenômenos da natureza que sempre foram relegados ao domínio do sobrenatural, do mistério ou da imaginação. Allan Kardec, na França, e também os estudiosos do moderno espiritualismo anglo-saxão do século XIX e início do século XX, cumpriram um papel importante em dar a esses fenômenos o caráter de objeto de estudo.

Esta contribuição ao estudo dos fenômenos ainda tem sido subestimada na contemporaneidade pela maior parte dos homens e mulheres de ciência, os quais ainda não conseguiram se despir do preconceito materialista em relação a esse tema ou simplesmente ignoram este importante momento histórico de pesquisas sobre a temática do espírito.

A COSMOVISÃO

A partir do diálogo crítico, autônomo, de Kardec com os Espíritos surge uma cosmovisão de mundo, uma filosofia, que busca compreender racionalmente o ser, suas causas primeiras e ultimas, os elementos do universo, suas leis, o significado dos seres vivos em geral e dos seres humanos em particular, sua destinação espiritual, entre uma infinidade de temas. Nasce uma filosofia que pretende dar conta do todo, da totalidade do ser.

Curioso observar que quando o espiritismo nasce, os ventos da filosofia estavam prestes a começar a soprar para a pós modernidade. A pós modernidade irá criticar fortemente as filosofias que buscam compreender a totalidade do ser. Há estudiosos que afirmam, por essa razão, que Kardec seria uma espécie de “iluminista tardio”.

A REFLEXÃO ÉTICA

Sem dúvida alguma o espiritismo possui uma dimensão ética. A perspectiva de mundo oferecida pelo espiritismo motiva o ser humano a transformar seu comportamento em direção aos mais nobres valores comportamentais, quais sejam o amor, a compaixão, a honestidade, o perdão, a sabedoria, enfim estes e outros valores que tornam a vida humana mais digna e feliz.

No campo ético o espiritismo propõe a ideia de leis morais, sendo a moral de Jesus de Nazaré uma espécie de síntese das grandes virtudes éticas.

Nesse sentido, o espiritismo não é uma filosofia meramente especulativa, mas sim voltada para a práxis no mundo. O espiritismo considera que homens e mulheres devem aprender a viver da forma mais harmônica possível e que são os responsáveis por todo o bem e mal que criam nessas relações intersubjetivas.

A REFLEXÃO SOCIAL

O Espírito encarnado, por natureza, vive com outros, vive, portanto, em sociedade. Da mesma forma que a comunicação é da natureza do ser humano é também inerente ao ser humano a sociabilidade. O espiritismo propõe não apenas o desenvolvimento do indivíduo, mas também das sociedades humanas, as quais devem se encaminhar para estágios civilizacionais cada vez mais adiantados de um ponto de vista da dignidade humana e do bem comum.

A ideia da “reforma intima”, tradicional no movimento espírita brasileiro, não expressa de forma precisa a visão espírita sobre o problema. Não cabe, na melhor perspectiva espírita, ao ser humano apenas o aperfeiçoamento pessoal, intimista, alienado, sendo necessário que o Espírito encarnado contribua com o desenvolvimento de seu grupo social, a partir de seus talentos específicos que devem ser exercidos em sociedade.

A METAFÍSICA

O espiritualismo espírita inova a partir da pesquisa empírica sobre o problema do espírito. Na verdade, o espiritismo propõe uma nova abordagem sobre o tema da sobrevivência da alma, a qual não mais se resumiria apenas na fé ou no raciocínio, mas na observação e mesmo experimentação dos fatos empíricos da mediunidade.

No entanto, o espiritismo também postula teses a respeito das causas primeiras e ultimas da realidade, típicas da reflexão metafisica tradicional. Além disso, o espiritismo reflete sobre as informações que os Espíritos trazem do mundo espiritual. Informações que só os Espíritos desencarnados podem fornecer.

CONCLUSÃO

É possível afirmar, por fim, que o espiritismo resgata um pensar sobre a totalidade, aos moldes da filosofia clássica, mas, no que diz respeito a seu principal objeto de estudo, a sobrevivência da alma e sua possibilidade de comunicação com o mundo terreno, utiliza os métodos científicos típicos da modernidade. Sendo assim, o espiritismo nasce como doutrina filosófica e método de pesquisa inaugurando uma nova proposta no campo do espiritualismo.

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