Ex-presidente de la CEPA (2008/2016)
Conhecemos várias características de Allan Kardec como fundador da Doutrina Espírita: sabemos que era meticuloso em suas análises, preciso em suas observações, honesto e sério em seu trabalho, dedicado até a exaustão para obter seus objetivos.
Neste pequeno artigo, desejo focar o trajeto que levou o Professor Rivail até ali, porque além de suas capacidades pessoais, que seguramente encontraram abrigo em sua família, estas começaram a se desenvolver no Instituto de Pestalozzi em Iverdum, Suíça.
Johan Heinrich Pestalozzi, que em sua juventude estudou Teologia para dedicar-se ao sacerdócio, tendo logo abandonado a ideia, conquistado pela teoria de Jean Jacques Rousseau sobre a necessidade de adequar a educação das crianças às novas tendências.
Sustentava Rousseau que a civilização direcionava-se em sentido contrário ao natural, e que era necessário criar novos modelos educativos a partir da observação e compreensão da natureza. A proposta comoveu e motivou profundamente Pestalozzi, impulsionando-o a trabalhar novos métodos de formação para as crianças através da educação.
Necessário destacar que foi Rousseau um dos primeiros a deixar de considerar a criança como “um adulto em miniatura”, eis que não era tratada com a ternura e compreensão necessárias à sua idade. O grande pensador francês soube captar a necessidade de transformar essa falsa forma possibilitando se começasse a ver a necessidade de contenção, afeto e acompanhamento por parte da criança em seus primeiros passos.
O ambiente encontrado pelo menino Hippolyte, quando, aos 10 anos, em 1884, ingressa no Instituto Pestalozzi, é totalmente diferente daquele até então conhecido por um estabelecimento de ensino.
Ali educam-se crianças de distintas nacionalidades e religiões, em um ambiente de trabalho agradável, ao mesmo tempo doce e severo, onde as tarefas se realizam ao ar livre, tanto como nas salas de aula, e a convivência entre professores e alunos é harmoniosa e disciplinada.
Em quatro anos, o adiantado Hippolyte ajuda seus companheiros mais atrasados, assumindo, muitas vezes, o lugar de seu mestre nos casos de viagens que Pestalozzi realiza para criar novos institutos.
As capacidades do discípulo, somadas aos avançados métodos de educação, marcam profundamente o futuro imediato de Rivail, transformando-o em um pedagogo convencido da necessidade de dar um novo ar aos então vetustos métodos de educação baseados na memorização, assim como na férrea disciplina dos sacerdotes e militares, que, até então, eram os principais responsáveis pela educação.
Embora formado em um Instituto privado de educação, Rivail compreende rapidamente a necessidade de ampliar os alcances da Educação Pública, numa verdadeira revolução, nesse momento em que havia grande porcentagem de população analfabeta.
Luta desde seus 20 anos para impulsionar novos métodos de ensino e pela ampliação da quantidade de educandos, transformando-se num homem público que defende seus postulados através de trabalhos bem documentados como seu “Plano proposto para o melhoramento da Educação Pública”, defendido nas Câmaras de Representantes desde o ano de 1828, com apenas 24 anos.
Defende ardorosamente a ideia de formar mestres e professores de dedicação exclusiva, de igual maneira que a formação recebida por outros profissionais, como os médicos.
Esse trabalho contribui para qualificar a Educação Pública num país como a França, que já era espelho de outras culturas, e que serviram de base para o desenvolvimento da educação de muitos países.
Resgatar esta faceta do Professor Rivail, 150 anos após sua desencarnação, pareceu-me de especial importância, porque sua entrega e a meticulosidade com que trabalhou desde sua juventude prepararam-no para seu trabalho maior: a conformação da Doutrina Espírita que, embora não o admita, por modéstia, teve nele um ator fundamental para conservar as características de uma verdadeira “Ciência de Observação”.
Só um observador atento e dedicado, honesto e sério em seu trabalho pôde extrair daquelas primeiras comunicações uma verdadeira Filosofia de vida, a partir da singela razão de buscar uma origem inteligente a uma resposta inteligente.
A educação pública de qualidade segue sendo um desejo dos países latino-americanos e obtê-la seria uma importante via de desenvolvimento humano e socioeconômico.
O Professor Rivai dedicou mais de 30 anos de sua vida a isso. Um verdadeiro visionário também nesse aspecto, pouco ressaltado, apesar de extremadamente valioso e que merece nosso reconhecimento como continuadores de seu legado.
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Fonte: “Vida e Obra de Allan Kardec” de André Moreil.