A presença do escritor paulista Paulo Henrique de Figueiredo no Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, dias 28 e 29/9, foi extraordinária oportunidade para uma verdadeira “Redescoberta de Kardec”, permitindo a contextualização da obra do fundador do espiritismo, a partir da cultura de seu tempo, e sua ressignificação nos tempos atuais.
Na sexta (28), à tarde, Paulo Henrique de Figueiredo fez uma palestra pública – “A Revolução Espírita”, e, no sábado, manhã e tarde, conduziu o Seminário “Redescobrindo Kardec”, para cerca de 50 inscritos.
Em seu trabalho no CCEPA, Figueiredo trabalhou com profundidade alguns textos de Allan Kardec em obras como “O Livro dos Espíritos”, “A Gênese”, “O Céu e o Inferno” e, especialmente, na “Revista Espírita”. Demonstrou a consonância dos escritos de Kardec com a cultura acadêmica da época que desenvolvia conceitos fundados no “espiritualismo racional”, em contraposição ao materialismo instaurado na França, a partir da Revolução Francesa. Mesmo se utilizando, por vezes, de terminologia tradicionalmente empregada pela religião, a obra de Kardec tem conteúdo genuinamente filosófico, como inserido no subtítulo de O Livro dos Espíritos: “Filosofia Espiritualista”.
Especial destaque foi dado por Figueiredo aos fundamentos da moral, a partir do espiritualismo racional. Para ele, a moral espírita tem concepção diversa tanto da moral da Igreja, como da moral materialista. A moral religiosa funda-se na submissão. É dogmática e heterônoma, pois sua prática decorre do medo do castigo e da busca de recompensas. Por sua vez, a moral do materialismo, igualmente submetida à heteronímia, tem sua base no egoísmo. É a moral do interesse, pregando também a submissão às leis da sociedade que punem quem as contraria.
Já a moral fundada no espiritualismo racional, em que está inserido o espiritismo é autônoma. Deriva da condição natural do ser humano, vocacionado à liberdade e ao progresso contínuo, e jamais sujeito a retrocessos ou quedas.