Realizou-se de 2 a 4 de novembro de 2017 o XV Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, organizado pelo Instituto Cultural Kardecista de Santos. Roberto Rufo, presidente do ICKS, procedeu a abertura do evento, saudando os participantes e homenageando o saudoso idealizador dos simpósios: Jaci Régis. O tema central do XV SBPE propõe uma reflexão: “Somos progressistas?”
Este foi o título da conferência de abertura, proferida porAlexandre Cardia Machado, Editor-Chefe do jornal Abertura e vice-presidente do ICKS. Ele apresentou o resultado de interessante pesquisa produzida por um grupo de dez integrantes do ICKS utilizando as edições dos jornais Espiritismo e Unificação e Abertura, desde 1962 até 2015. A pesquisa concluiu que os grandes temas, mesmo os difíceis e polêmicos, de interesse da sociedade brasileira, no período analisado foram estudados e tratados, mediante a publicação de artigos, com uma abordagem espírita humanista, laica, livre - pensadora e progressista,dando origem a um movimento que se consolidou entre nós..
José Carlos de Souza, de Ribeirão Preto, SP, tratou “Da crise dos valores morais da humanidade à transição do planeta”. O autor situa suas reflexões entre a publicação de “O Livro dos Espíritos”, 1857, e os dias atuais onde uma sociedade em ebulição e transformação prepara-se para a anunciada transição planetária, quando o planeta Terra será habitado pelos que conseguiram superar o primitivismo da violência e do egoísmo, para viver num tempo de paz e harmonia – um mundo de regeneração.
Marco Videira, de Santos, SP, depois de uma extensa pesquisa sobre a vida de Jesus, discorreu sobre o título: “Jesus, este mito que me atormenta”. Afirma o autor que tratando do mito religioso ou o do Jesus histórico, já foram escritos mais de 80.000 livros, o que atesta a inegável importância mítica de Jesus para o Ocidente cristão. Não obstante, há projeções de que até o ano de 2070, a manter-se o crescimento hoje observado, o Islamismo deverá superar o Cristianismo. Ademais cresce o número de ateus e agnósticos (de 2007 a 2014 o aumento percentual dos mesmos foi de 100%, nos EUA), no Brasil o fenômeno se repete. Em 1980, 2% da população brasileira não acreditava em Deus. Hoje esse percentual é de 9%.
Jacira Jacinto da Silva, de São Paulo, SP, presidente da CEPA, reflete sobre “O senso de justiça e de cidadania a partir do ethos espírita”. Propõe que o centro espírita se transforme, efetivamente, em espaço aberto à discussão de ‘todo e qualquer assunto relacionado ao convívio humano e social, dentro ou fora da casa espírita, agindo e pensando cidadania e justiça pelas diretrizes fornecidas pela filosofia espírita.”
Marissol Castello Branco, de São Paulo, SP, faz um estudo a partir da leitura do livro “Memórias do padre Germano”, procurou “encontrar qual personagem verdadeiro na história francesa que pudesse coincidir com os relatos do espírito Germano em ‘M emórias do padre Germano’. Após a identificação, Marissol levantou “várias biografias que se fizeram ao longo dos séculos XIX e XX sobre o pároco francês.” E pôde encontrar muitas coincidências que levaram a uma mesma personalidade: o Cura de Ars”, Jean-Marie Batista Vianney. Se Germano e Jean-Marie são o mesmo espírito, não há como comprovar. Mas as duas histórias se entrelaçam. “São histórias de uma vida dedicada ao servir. Sempre dispostos a ajudar a quem quer seja. Distribuíram amor e receberam isso em troca daqueles que o acompanhavam.”
Ciro Pirondi, de São Paulo, SP, tematiza a “Natureza e Nós”, afirmando que “Nós somos a natureza. Falar sobre ela é falar sobre nós mesmos.” E continua: “Penso ser a ideia contínua e itinerante da vida um saber de fronteiras, uma forma peculiar de construção de esperança e paz. Ao mesmo tempo, uma inquietação e uma responsabilidade, pois há um só tempo estamos mergulhados, em um presente contínuo perpétuo, e nos relacionamos com o passado e com o futuro, inevitavelmente, neste presente. Esta forma peculiar do conhecimento que o Espiritismo, na sua essência, nos informa, é uma simplificação impressionante da vida. Bela e múltipla, como toda síntese é.”
“Qual deve ser o papel dos espíritas e suas instituições, perante as questões politicas e sociais?” pergunta Ricardo de Morais Nunes, de Santos, SP. O autor observa que “frequentemente, os espíritas não fazem uso de um pensamento sociológico crítico em relação às questões da vida em sociedade e acabam por apostar todas as possibilidades de melhoria do mundo na chamada “reforma íntima.” Posiciona-se contra o neoliberalismo cuja pretensão é o desmonte do chamado estado bem-estar social. Todavia, não propõe que as instituições espíritas se transformem em sindicatos ou partidos políticos, nem que defendam ou propaguem qualquer agremiação política em sua luta pelo poder, mas que os espíritas se conscientizem do importante papel dos centros espíritas na estrutura da sociedade brasileira e não se omitam frente as injustiças sociais. Entende que os cidadãos espíritas devem assumir maior protagonismo em defesa dos direitos e garantias individuais para todos, “ visando a construção de uma sociedade humanista, na qual a liberdade e a justiça social se façam presentes.”
Alcione Moreno, de São Paulo, SP, refletiu sobre as infinitas conexões que tecem a “teia da vida”. Em seu trabalho: “Pensamento sistêmico e espiritismo”, afirma que o todo é maior que a simples soma das partes, unidos somos mais fortes, o mundo físico ou corpóreo e o mundo espiritual ou incorpóreo interagem permanentemente. A vida é movimento, sempre se renova. Sintetiza: “O espiritismo ensina que a maior chaga da humanidade é o egoísmo. Se entendermos que sem bactérias não poderemos sobreviver, se entendermos que somos imortais, que vivemos todos unidos, que um depende do outro, que estamos todos conectados, nosso entendimento da vida será diferente.”
Gustavo A. Molfino, de Rafaela, Argentina, chamou atenção para: “El desarrollo sostenible vs el desarrollo consciente del espíritu”. Para Gustavo uma sociedade em crise reflete um ser humano em conflito com seus valores e paradigmas. Os velhos paradigmas se mostram frágeis, insuficientes e insustentáveis; as ideologias perdem toda a sua força, assim como os governos; as instituições ou se adaptam e evoluem ou desaparecem. O cenário atual é complexo, porém o nível de conhecimento, tecnologia e conectividade nunca foi tão desenvolvido e nos oferece um suporte extraordinário de informações. O mundo dos espíritos se aproxima da nossa realidade e aprendemos a conviver com ele, estamos mais sensíveis, conscientes e necessitados do que nunca. Como espíritas, somos otimistas. Sem dúvida, uma nova ordem emergirá da crise, como produto de um estado de consciência e responsabilidade em harmonia com a nossa evolução espiritual, a partir de um trabalho solidário. Nossos desequilíbrios físicos e emocionais nos conduzem a uma busca de “Sentido da Vida” sem precedentes. Devemos semear a confiança e a esperança que nos propõe o espiritismo, com a humilde dos que dão sem nada esperar em troca, somente pela felicidade íntima de haver cumprido o dever e a certeza de ter contribuído para a construção de uma sociedade mais justa, fraterna e feliz.
Encerrando o segundo dia de atividades, aconteceu uma Mesa Redonda reunindo Ademar Arthur Chioro dos Reis, Homero Ward da Rosa, Reinaldo de Lucia e Roberto Rufo, para refletir sobre “O espiritismo livre-pensador na prática”. Todos os integrantes manifestaram preocupação com as mudanças e a complexidade de uma sociedade que se mostra insegura, aflita, angustiada. Ao lado do otimismo de alguns convive o pessimismo de muitos com o presente o que impede de avistar um futuro melhor. Os centros espíritas não devem esquecer a dimensão humana, devem preparar-se para acolher, dialogar, despertar o interesse das pessoas para o estudo e a prática do espiritismo, como alavancas para promover a evolução consciente do espírito em sua trajetória imortal.
“O Espiritismo que queremos” foi o tema abordado por Carol Régis. Seu propósito foi: compartilhar inquietações, transmitir sentimentos aos colegas de ideal, “para que possamos, caso haja interesse, refletir em conjunto sobre o que está acontecendo na prática em nosso dia a dia como espíritas, que direcionamentos temos dado em nossas casas, como dirigentes ou não, vislumbrando o bem estar e a felicidade daqueles que nos procuram para algum fim. Qual o grau de importância real temos dado à pessoa que ali está sentada em busca de algo?” Porém, prossegue a autora: “Não um olhar distante e filosófico sobre a teoria do Ser. Mas um olhar para o lado, com genuíno interesse ao companheiro de jornada que frequenta a mesma casa há tantos anos.” Carol propõe a todos os espíritas, em especial aos dirigentes, que analisem os objetivos das instituições, estudos, pesquisas, divulgação do espiritismo sim, porém não podemos nos perder num emaranhado de regimentos, regulamentos, normas rígidas, inflexíveis e burocráticas, descuidando do principal: a dimensão humana que deve caracterizar o centro espírita.
Mauro de Mesquita Spínola, de São Paulo, SP, tratou sobre “Revisão sistemática da literatura e sua aplicação em pesquisas com temática espírita.” Mauro apresentou um trabalho de grande relevância para quem se dispõe a trabalhar em pesquisas com temáticas espíritas. Um método, um percurso concatenado, uma sequência lógica de procedimentos, que oferece segurança ao pesquisador, e resultados confiáveis ao seu trabalho. Sem dúvida um passo-a-passo indispensável para orientar os pesquisadores espíritas.
“Do discurso à ação e o comportamento espírita” foi o tema de Jailson de Lima Mendonça, de Santos, SP. Assegura o autor que de nada adianta as pessoas terem um excelente currículo e discurso se não conseguirem tratar o outro com civilidade (não estamos falando de amor). Devemos nos preocupar em demonstrar, através do exemplo, respeito por todos aqueles com os quais nos relacionamos, a começar dentro do próprio lar. É comum justificarmos que as preocupações em excesso, a ansiedade dos tempos modernos e a falta de tempo são responsáveis por comportamentos grosseiros. Comportamentos injustificáveis nos mostram que está faltando controle sobre as próprias ações e, acima de tudo, respeito para com o próximo.
No encerramento do XV SBPE, Palmyra Regis, viúva do idealizador do Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, Jaci Regis, fez emocionado agradecimento a todos que têm prestigiado o evento que ocorre de dois em dois anos, em Santos.
Em tempo: Quem tiver interesse em adquirir o CD contendo os textos integrais dos trabalhos apresentados no XV SBPE, por favor, encaminhe solicitação para o e-mail: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it. O preço do CD é R$.12,00, incluído o valor do frete.Jailson é o novo presidente da CEPABrasil
Como é de praxe, a Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA realizou, por ocasião do XV SBPE sua Assembleia Geral para eleição e posse de seus novos dirigentes. O Conselho Executivo da entidade ficou assim constituído, para o biênio 2018/2019: Presidente – Jailson Lima Mendonça. Vice-Presidente: Matheus Laureano. Secretário-Geral: Homero Ward da Rosa. Tesoureira: Elisabete Marinho Monson Rodrigues. Conselho Fiscal – Titulares: Margarida da Silva Nunes, Maria Luisa Rossi e Marissol Castello Branco. Suplentes: Rodrigo Almeida Alves, Alcione Moreno e Delma Crotti.Na foto, a partir da esquerda, a tesoureira, o presidente e o secretário-geral eleitos e empossados na Assembleia Geral da CEPABrasil.