O XVIII Congresso Espírita Pan-Americano, realizado em Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, pela CEPA-Confederação Espírita Pan-Americana, no período de 11 a 15 de outubro de 2000, teve como Tema Central a pergunta Deve o Espiritismo Atualizar-se? e fixou como principal objetivo "discutir a questão da atualização doutrinária do Espiritismo". 

 

Os trabalhos foram apresentados por seus autores, representantes de diversas tendências ou vertentes do movimento espírita, dentro das áreas temáticas de Epistemologia e Paradigmas, Metodologia, Conteúdos Doutrinários e Linguagem, agrupados de acordo com as seguintes modalidades:

 

Foram, ainda, levadas a efeito duas conferências públicas, sessão artística, encontro de jovens, de pesquisadores, de educadores, sessão de autógrafos, passeio, jantar e show confraternativos.

Durante o evento , que homenageou a figura de Deolindo Amorim e que teve por Presidente de Honra o Psicólogo venezuelano Jon Aizpúrua, a CEPA realizou sua Assembléia Geral na qual foi eleito e empossado o advogado brasileiro Milton Rubens Medran Moreira como seu novo presidente. Em razão disso, conforme prevê o seu Estatuto, a CEPA terá sua sede em Porto Alegre-RS, Brasil, no período administrativo de 2000 a 2004. Na mesma Assembléia foram criadas a Comissão para Reforma dos Estatutos, presidida pelo Argentino Hugo Beascochea, a Comissão de Relações Internacionais, presidida por Jon Aizpurua, sendo, ainda decidida a realização, em 2002, na cidade de São Paulo, da XIV Conferência Regional Espírita Pan-Americana.

Como era esperado, fortes reações opuseram-se ao tema escolhido e à própria realização do evento que, apesar disso, coroou-se de pleno êxito, tanto no aspecto organizacional, apesar do amadorismo da equipe, como na abordagem dos conteúdos, feita por excelentes expositores de diversos países. É de se destacar a participação, dentre os expositores brasileiros, de escritores, líderes, intelectuais e conferencistas representativos de diversos segmentos do nosso movimento espírita, o que imprimiu um caráter singular ao congresso pelo clima fraterno, descontraído, respeitoso, onde as diferenças foram discutidas no campo das idéias, contribuindo para a conquista, por parte da CEPA, de novos amigos e simpatizantes.

Era natural que a realização desse congresso da CEPA no Brasil gerasse repercussões contraditórias. Afinal, a CEPA, cujo programa não endossa o modelo vigente no Brasil, norteado pela idéia de que o Espiritismo é uma revelação divina e, como tal, acabada e intocável, é uma instituição cinqüentenária reconhecida internacionalmente e cuja expansão no Brasil, graças à liderança e ao carisma de seu então presidente Jon Aizpurua, ocorreu em rítimo crescente nos últimos 7 anos.

Os que se demoram na visão evangélico-salvacionista, de um modo geral, apequenam a contribuição dos encarnados no processo da codificação. Admitem, quando muito, que o conhecimento humano tenderá a aproximar-se, gradualmente, da revelação espírita, situada muito acima do progresso atingido pela Humanidade.

Sob essa visão, o próprio Kardec não passaria de um mero "secretário" dos Espíritos, encarregado de compilar e publicar suas revelações. Todavia, quando se examina a contribuição do fundador do Espiritismo, percebe-se facilmente que a Doutrina Espírita tem a marca pessoal do pedagogo, do filósofo e do cientista que ele foi e que, sem Allan Kardec, o Espiritismo não seria o que é.

Os órgãos dirigentes do movimento espírita, dessa forma, estariam investidos de uma espécie de "mandato divino" e da impostergável missão de "salvar" ou de orientar a Humanidade. É o que se depreende do discurso que predomina no espiritismo religioso.

Ao propor como centro temático a pergunta "Deve o Espiritismo Atualizar-se?", na I Reunião de Delegados e Amigos da CEPA no Brasil, realizada em São Paulo, em 16.08.97, tínhamos em mente que deveríamos ser cautelosos e responsáveis na organização do congresso pois não faltaria quem colocasse em dúvida a legitimidade da CEPA para tomar tal iniciativa.

Foi em razão disso que a Comissão Organizadora teve o cuidado de inscrever como primeiro objetivo do referido evento "discutir a questão da atualização doutrinária do Espiritismo".

Ora, seria insensatez da CEPA pretender atualizar a Doutrina Espírita em um congresso único e por ela patrocinado, embora esse fosse o papel atribuído por Kardec aos congressos espíritas.

Ademais, a forma interrogativa sob a qual foi colocado o Tema Central não autorizaria ninguém a atribuir à CEPA pretensões exclusivistas que ela não alimenta. A pergunta era indutora à reflexão e ao debate.

Por outro lado, a CEPA, em todos os momentos, e isso ficou evidenciado no seu Congresso, sempre reafirmou e enalteceu a vigência do pensamento kardequiano, especialmente naquilo em que não houve superação pelos novos conhecimentos do homem.

 

Na fase que antecedeu o evento, a CEPA teve o cuidado de divulgar um documento intitulado "Declaração de Intenções" com o intuito de prestar esclarecimentos ao movimento espírita e evitar interpretações equivocadas acerca dos seus objetivos.

São justas as preocupações que todos alimentamos quando se trata de revisão doutrinária. Concordo que não se pode modificar, adulterando, a obra de Kardec, numa violação à sua autoria. Entretanto, se os seus livros não podem ser alterados, pois expressam o seu pensamento e o dos Espíritos e refletem o estágio de conhecimento e o contexto sócio-cultural de uma época, já não se pode dizer o mesmo das idéias, teses e concepções alí contidas e que, por desejo do próprio fundador do Espiritismo, deveriam acompanhar o Progresso. E esta constante atualização tem que ser feita pelos homens - os espíritas de todos os Continentes - com o concurso dos espíritos (e não somente por estes, como pensam alguns); verdadeiramente comprometidos com a proposta kardequiana. E ouso dizer que tal iniciativa tem que ser nossa e não dos espíritos desencarnados. Deverá haver precauções, obviamente, contra a "pseudo-ciência", contra o sincretismo, pretendido por alguns setores, com práticas e doutrinas incompatíveis com a proposta espírita e contra os "novidadeiros" que pululam nos arraiais espiritualistas, com suas teorias esdrúxulas e estapafúrdias.

O que a CEPA desejava e conseguiu, foi deflagrar um processo, provocar a discussão, estimular o debate em torno daquilo que considera fundamental para a continuidade do Espiritismo no planeta - a sua atualização.

O fato é que, sem atualizar-se, o Espiritismo perecerá.

Por isso tudo, acredito, sem falsa modéstia, que o evento patrocinado pela CEPA, certamente se constituirá num marco divisor na história do Espiritismo.

Efetivamente se constituiu em um congresso como queria Kardec.

 

Salomão Jacob Benchaya (*)

Porto Alegre-RS, Brasil

(*) Economista, Presidente da Comissão Organizadora do XVIII Congresso Espírita Pan-Americano, Secretário Administrativo da Confederação Espírita Pan-Americana e Diretor de Eventos do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre-CCEPA; foi vice-presidente da União Espírita Paraense, presidente da União Distrital Espírita-Sul de Porto Alegre, presidente do CCEPA, da FERGS-Federação Espírita do Rio Grande do Sul e da Comissão Organizadora do 4º Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita.

 

 

 

  • Painéis Temáticos – que funcionaram no horário matutino, na forma plenária, constituindo-se de doze (12) temas apresentados por autores convidados especialmente pela Comissão Organizadora;
  • Fórum de Temas Livres – que se desenvolveu no horário vespertino, simultaneamente em quatro salas, num total de trinta (30) exposições, constando de trabalhos de autores convidados ou inscritos livremente.

 

O evento foi organizado sob a responsabilidade do CCEPA-Centro Cultural Espírita de Porto Alegre e realizado nas confortáveis instalações do Hotel Embaixador, no centro da Capital gaúcha. Participaram 377 congressistas representando, além do Brasil, Argentina, Colômbia, Cuba, Estados Unidos, México, República Dominicana, Porto Rico, Venezuela, Espanha, França e Austrália.