INTRODUÇÃO   

O que caracteriza o comportamento espírita? É a incessante luta para adaptar-se aos ensinamentos das leis divinas. Tal luta começa na busca pelo autoconhecimento. Passa pelo entendimento do verdadeiro sentimento de fraternidade, que, por sua vez, passa pela análise crítica das conseqüências do pensamento e do gesto. Trabalha com individuação da criatura, no sentido de que a pessoa não se considere o centro do todo, mas parte integrante do todo, o que lhe permitirá crescer para o desenvolvimento da consciência cósmica universal. Na busca do autoconhecimento, o ser vai-se percebendo em sua complexidade, com sua viciação de sentimentos bons e maus que alimentam desejos e anseios. O aprendizado paulatino sobre si mesmo lhe permitirá o controle  e o domínio de suas emoções.O conhecimento do poder que lhe confere o livre arbítrio lhe atribui a responsabilidade por seus próprios atos, não só dele como indivíduo, mas também dele como parte do todo.Considerando-se um ser espiritual e eterno, deverá introjetar o princípio da reencarnação como um pólo incentivador de seu comportamento espiritual, estimulador de suas ações em busca do autoconhecimento e, ao mesmo tempo, controlador do desejo de progresso espiritual. A vida é eterna, mas toda encarnação é efêmera.O comportamento espírita não prescinde do compromisso de difusão da Doutrina de Kardec, em sua pureza, através do estudo sistematizado da Doutrina, de cursos que aprofundem os conhecimentos básicos e, especialmente, através do exemplo na vida prática.

 II- DESENVOLVENDO AS IDÉIAS BÁSICAS 

II.1- ADAPTAÇÃO AOS ENSINAMENTOS DAS LEIS DIVINAS:“O espírito prova sua elevação, quando todos os atos de sua vida corporal representam a prática da lei de Deus, e quando, antecipadamente, compreende a vida  espiritual.”      (Questão 918 do Livro dos Espíritos, Kardec. Grifo nosso ) O homem de bem é bondoso, humanitário, benevolente, pratica o amor e a caridade para com todos.

 II.2- AUTOCONHECIMENTO: “ Quem conhece a si mesmo já não tem tempo de criticar qualquer pessoa. Recebemos, constantemente, de fora, lições imortais que servem para nos alertar e, por vezes, para nos ajudar a compreender o que temos por dentro.”             -João Nunes Maia- espírito Lancellin- “Cirurgia Moral”- página 24 – É preciso trabalhar o conhecimento de que os  sentimentos, as emoções e os desejos não podem escravizar o homem, que deve estar em permanente estado de vigilância, sempre discernindo entre o bem e o mal, o certo e o errado.O autoconhecimento começa com a constante análise das experiências que a vida oferece. Passa pela análise crítica das emoções, sentimentos e desejos, e pelo discernimento sobre as conseqüências positivas ou negativas dos pensamentos e dos atos humanos. Esse trabalho deve encontrar fundamentação no estudo do Livro dos Espíritos, Terceira Parte –das Leis Morais – que deverá orientar o comportamento espírita, enriquecendo o homem em sua relação com seu próximo. 

II.3-CONSEQUENCIAS DO PENSAMENTO E DA  AÇÃO; “O pensamento é energia que pode conduzir à sublimação ou ao desespero, conforme os conteúdos psíquicos de que se revista.”        -Divaldo P. Franco- esp. Joanna de Angelis; “Triunfo Pessoal” – página 31 O espírita precisa estar bem consciente de que não há atitude inconseqüente. Cada pensamento, cada sentimento, cada gesto praticado terá inevitáveis conseqüências, segundo a lei de retorno, ou de ação e reação. O espírita deve alicerçar a sua vontade de progresso no estudo e aprofundamento da Doutrina.É preciso reforçar no comportamento espírita a consciência de que o pensamento é uma força viva direcionada pelos estados emocionais que a vida desperta no homem.Tal comportamento  deve capacitar  a pessoa para o controle de suas idéias e conseqüentes ações. 

II.4- FRATERNIDADE “A experiência do amor é essencial ao autoconhecimento” - Divaldo P. Franco- esp. Joanna de Angelis, in “O Homem Integral”- página 51 Nas palavras de Divaldo Franco, em  “O Homem Integral”, a confiança no êxito do trabalho de aquisição do comportamento espírita aprofundará o sentimento de amor pelo ser humano, de participação no grupo social, de respeito por si mesmo, como ser importante no conjunto geral.O princípio da fraternidade  deverá ser a prática de uma contínua interação entre opostos, que sempre passará pelos princípios do entendimento, da compreensão, da compaixão e da caridade.“Cabe-nos, primeiramente, povoar nossa mente de pensamentos de amor, não somente para cultivá-los dentro de nós, mas para traduzi-los nos gestos, na ação”.         - Rino Curti, in “Espiritismo e Reforma Íntima”, página 110 

II.5- INDIVIDUAÇÃO  E  INTEGRAÇÃO  “Para contrair uma coisa, devemos, certamente, primeiro, expandi-la.Para enfraquecê-la, devemos, certamente, primeiro, fortalecê-la.Para derrotá-la, devemos, certamente, primeiro exaltá-la.Para despojá-la, devemos, certamente, primeiro, presenteá-la. Essa é a chamada sabedoria sutil.”     - Lao Tse- “O TAO  DA  FÍSICA”- Fritjof Capra- página 91 O indivíduo tem que partir do princípio de que ele não é único no universo. Apesar de sua individualidade, ele é parte integrante do todo. Por isso, precisa se perceber como um ser cósmico universal, responsável por seu irmão.“Os que se aproximam uns dos outros se fortalecem mais, serão todos uma resistência contra o mal”.      RAMATIS: “o Despertar da Consciência”- página 33 Pelo estudo da Doutrina Espírita, o homem vai compreendendo que, como parte do todo,ele também é parte da fraternidade que deve existir entre o mundo material e o mundo espiritual. 

II.6- CONSCIÊNCIA CÓSMICA UNIVERSAL “O único homem que pode realmente ser posto em paralelo com o mundo é o homem em toda a acepção desse termo, isso é, o homem total, no qual os poderes interiores foram completamente desenvolvidos. Um homem não desenvolvido, um homem que ainda não alcançou o termo de sua evolução, não pode ser considerado uma imagem integral ou perfeita do universo. É um mundo inacabado.”     P.D. Ouspensky, in “Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido”, página 110 Através da vivência da fraternidade, o espírito consegue extrapolar os limites dos corpos físico e perispiritual. Sai de dentro de seu escasso “território” e se expande em direção ao próximo. Envolvendo-se com seu semelhante, vai perdendo hábitos egoístas de viver para dentro de seu “eu”. Transforma-se, supera-se, abrange o “outro” e o envolve. Na sua caminhada dentro da eternidade, incorpora-se, assim, ao que lhe é exterior. Toma consciência de que, em realidade, não existem “outros”, posto que todos integramos o todo cósmico universal. Essa ampliação consciencial deve ser um dos objetivos do comportamento espírita.    

II. 7- CONTROLE E DOMÍNIO DAS EMOÇÕES: “Apenas educando a emotividade é que vamos conseguir melhorar e manter os pensamentos equilibrados e sadios, malgrado os atritos e choques da existência.”               -Gesiel Andrade, in “Equilíbrio Íntimo pelo Espiritismo”- página 37 No processo evolutivo que gera a aprendizagem do comportamento espírita, é preciso estimular a conscientização de sentimentos e emoções, ligados à ansiedade, como a raiva,  o ódio, o medo, a tristeza, que geram sentimentos de revolta e desespero, e alimentam pensamentos viciosos de  orgulho, egoísmo, ambição, inveja, vaidade e prepotência.A busca pelo comportamento espírita deve ser fundamentada na educação desses sentimentos, emoções e viciações morais. 

II .8- LIVRE ARBÍTRIO E RESPONSABILIDADE: “ O livre arbítrio é o artífice do seu empreendimento, mestre dos seus passos, mentor do deu discernimento. Pode ser herói ou vilão, salvador ou algoz, benéfico ou maligno. ...é o comando de vida entregue por Deus nas mãos de cada homem.” – Abel Glaser,  in “Fundamentos da Reforma Íntima”-  página 22 O exercício do livre arbítrio cria paulatinamente no homem a noção de sua responsabilidade, como ser integral. Essa prática vai depender do conhecimento sobre o certo e o errado, o bem e o mal, tornando o homem o único responsável por sua própria vida nos dois mundos. Porém, o livre arbítrio pode desenvolver no homem um perigoso sentimento de poder e prepotência, liberando-o para agir de forma nociva à sociedade.Cabe à  Doutrina Espírita, através do estudo das obras de Kardec, promover discussões aprofundadas que despertem a consciência do homem e eduquem suas tendências.

II. 9- PRINCÍPIO DA REENCARNAÇÃO  “O homem consciente de sua inferioridade tem na doutrina da reencarnação uma esperança consoladora.”                     -  Kardec, “Livro dos Espíritos”, questão 171 O estudo e a crença na verdade do princípio de ação e reação reforçam no homem a necessidade de educar seus sentimentos, controlar suas tendências, trabalhar suas emoções, seus desejos, suas ambições, aprimorando sentimentos de amor e fraternidade. O homem de verdadeiro comportamento espírita sabe que a reencarnação é oportunidade – sem limites no tempo e no espaço – para ele conquistar a liberdade de usar seu livre arbítrio e a esperança de atingir a plenitude de sua evolução.Como afirma Carlos Baccelli, espírito do Dr. Inácio Ferreira, in “Infinitas Moradas”: “A vida é infinita em suas manifestações e o espírito em suas possibilidades existenciais.”( página 298). 

II. 10 – COMPROMISSO DE DIFUSÃO DA DOUTRINA: “O homem permanece em função de aprendizado e, nessa tarefa, é razoável que saiba valorizar a oportunidade de aprender, facilitando o mesmo ensejo ao semelhante.”                         Rino Curti, in “Espiritismo e Reforma Íntima” – página 98 O comportamento espírita exige que se divulgue aquilo  que se considera verdadeiro. Quem aceita o livre arbítrio, a reencarnação e o inter-relacionamento entre os mundos material e espiritual,  deverá – dentro dos princípios de caridade e fraternidade -  sentir-se responsável pela difusão da Doutrina Espírita.O Espiritismo tem recursos inesgotáveis. Em todas as suas propostas doutrinárias, demonstra equilíbrio e bom senso. Suas concepções e conceitos adaptam-se a qualquer sistema de idéias; acompanham as conquistas da Ciência; permitem o aprofundamento dos conhecimentos psicológicos modernos, orientando o homem na sua caminhada evolutiva para o encontro de si mesmo.                 

III.- CONCLUSÃO: Em Adenauer Novaes, in “Psicologia e Espiritismo”, página 179, encontramos um pensamento conclusivo do qual participamos:“O Espiritismo não é uma camisa de força para o comportamento humano. Por ser um saber que liberta, deve levar à felicidade, e não ao degredo. Proibições não pertencem aos seus princípios, porém, assumir conscientemente responsabilidades pelos próprios atos representa norma de conduta espírita. O ser humano, em sua caminhada evolutiva, deve ter direito a escolhas, devendo buscar aquilo que lhe convém de acordo com seu momento de vida. As diretrizes básicas podem ser encontradas no Evangelho de Cristo.”De nossa parte, entendemos que a terceira parte do Livro dos Espíritos – das leis morais ou divinas- estabelece claramente as diretrizes para o comportamento espírita do “homem de bem”.Como afirma Deolindo Amorim, colaboração de Hermínio C.Miranda, in “O Espiritismo e os Problemas Humanos” :“... é uma doutrina infensa a qualquer esquematização forçada. Não cabe dentro de bitolas, religiosas ou políticas, tanto faz da direita como da esquerda.”Não é afeita a radicalizações violentas nem a posições retrógradas. Ultrapassa qualquer forma de particularismo. Sua posição firma-se nos planos terreno e espiritual, numa atitude integradora, de preocupação universalista, no tempo e no espaço.Admitimos a urgência desta abordagem sobre comportamento espírita, porque, nas palavras de Kardec,  “O  Espiritismo será o que dele fizerem os homens.”Entendemos o comportamento espírita como resultado da importância que o indivíduo deve dar ao estudo de subsídios que o ajudem a entender a necessidade de despertar sua consciência e empenhar-se na aquisição de seu equilíbrio interior.Há certas máximas que o espírita deve assimilar como fundamentais no perfil de seu comportamento, como: “Orai e vigiai.”   “Com o juízo com que julgardes, sereis julgados.”“Sede prudentes, como as serpentes, e simples como as pombas”.Evitar a cristalização de pensamentos que só conduzem à revolta e ao desentendimento é básico no comportamento espírita.Consideramos o Evangelho obra filosófica e moral. A recomendação  para abri-lo ao acaso, para nele encontrar consolo nas aflições, parece dar-lhe um contorno mítico.  

GLÓRIA DE LOURDES I. CHAGASNORMA  S. CASSELCARMEM REGINA M. D. MARCHETTIELOÍSA ELENA O. NUNES  

BIBLIOGRAFIA  1.     Andrade, Gesiel: “Equilíbrio Íntimo pelo Espírito”2.     Amorim, Deolindo, colaboração Hermínio C. Miranda:”O Espiritismo e os Problemas Humanos”3.     Baccelli, Carlos, espírito Inácio Ferreira: “Infinitas Moradas”4.     Curti, Rino: “Espiritismo e Reforma Íntima”5.     Capra Fritijof: “ O Tao da Física”6.     Ferreira , Altino: “Encontro com a Cultura Espírita – Moral e o Homem Moderno7.     Franco, Divaldo Pereira, espírito Joanna de Angelis:  “Triunfo Pessoal”8.     Glaser, Abel, esp. Cairbar Schutel: “Fundamentos da Reforma Íntima”9.     Maia, João Nunes, esp. Lancellin: “Cirurgia Moral”10. Maia, João Nunes, esp. Miramez: “Conceitos de Paz”11. Novaes, Adenáuer: “Psicologia e Espiritualidade”12. Ouspensky, P. D.: Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido”13. Ramatis: “O Evangelho à Luz do Cosmo”